Raúl Castro anunciou, durante cimeira mundial sobre o desenvolvimento, o conjunto de condições que o seu país exige para reatar as relações com os EUA de forma plena. O Presidente cubano quer o ” fim ao bloqueio económico, comercial e financeiro contra Cuba”, que se devolva ao país “o território ocupado ilegalmente pela Base Naval de Guantánamo, acabem as transmissões de programas de subversão e desestabilização contra Cuba e se compense o povo pelos prejuízos económicos e humanos que sofreu”.

Raúl Castro manteve assim a retórica habitual de Havana. Ao embargo económico chamou “bloqueio”, apesar de Cuba ter relações comerciais normais com a maioria dos países do mundo. E exigiu limitações à liberdade de informação, ao tratar como subversivas as emissões de rádio e televisão realizadas pela comunidade cubana que vive nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, apesar deste conjunto de imposições defendidas por Castro, o Presidente cubano não fez qualquer tipo de menção no que diz respeito às reformas democráticas e ao respeito pelos direitos humanos na ilha, ponto que é um dos principais obstáculos ao avanço nas negociações com os EUA, conta o ABC.

O Presidente dos EUA, Barack Obama, que discursou antes de Castro mostrou-se confiante no levantamento do embargo por parte do Congresso. Obama sublinhou as diferenças com o governo cubano e a defesa dos direitos humanos, mas realçou que agora “enfrentam essas questões através de relações diplomáticas”.

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O presidente norte-americano sublinhou que a política seguida em Cuba durante o último meio século de regime castrista “tem sido incapaz de melhorar a vida dos cubanos” e que essas alterações não vão acontecer rapidamente, apelando a uma maior abertura e à não coerção, já que esse será “o melhor apoio às reformas que beneficiem a ilha e melhorem a vida dos cubanos”. Recorde-se que Cuba tinha, antes da revolução castrista, o nível de vida mais elevado de toda a América Latina (era até mais elevado do que o de Portugal nessa época) e é hoje um dos países mais pobres da região.

O Presidente cubano foi aplaudido no final o seu discurso, ao longo do qual defendeu o trabalho dos governos do Brasil, Argentina, Equador e Bolívia, criticando simultaneamente a NATO pela sua interferência na Síria e na Europa Oriental. Raúl Castro dirigiu-se também à União Europeia para que “assuma imediatamente as responsabilidades com a crise humanitária que ajudou a gerar”, referindo-se à crise de refugiados que nos últimos meses está a afetar a Europa.

Castro deixou ainda uma mensagem de apoio à Venezuela, prometendo que o país poderá sempre contar com a solidariedade de Cuba contra as ações que pretendem desestabilizar o ordenamento constitucional e destruir a obra iniciada pelo seu companheiro Hugo Chávez Frías, escreve o El País. Venezuela, recorde-se, que prendeu recentemente o líder mais destacado da oposição, Leopoldo López.

Um encontro formal entre Raúl Castro e Barack Obama está previsto para a próxima terça-feira. É a segunda vez que os líderes de Cuba e dos EUA se reúnem depois de terem anunciado, em dezembro, o início da restauração das relações diplomáticas entre os dois países.