As ações do Estado Islâmico (ISIS) têm monopolizado as notícias sempre pelas piores razões. Mas a verdade é que há também por aí também muitas paródias a ridicularizar os terroristas, como por exemplo uma falsa Vogue. Apareceu em 2014, chama-se Jihadi Vogue, foi divulgada na Internet, e na capa surgem três jihadistas e 8 dicas de moda: as razões para os bigodes estarem fora de moda, dicas para usarem os melhores acessórios de cabelo ou ainda o porquê de a cor caqui estar na moda.

jihadi vogue

E eis que surge a pergunta : será bom rir dos terroristas ou será melhor conter o riso?

Aya Brown é o nome artístico de uma rapariga síria de 26 anos, que está na Turquia e que respondeu ao El Mundo a esta pergunta, através de uma entrevista por Skype. Aya não tem dúvidas.

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“Quando toda a gente começou a falar da sua força [a força do ISIS], nós decidimos que iríamos mostrar a sua estupidez. Para quê fazê-los parecer poderosos? Isso é o que o Ocidente faz, mas temos é de mostrar as fraquezas, porque quando as pessoas perdem o medo elas riem”, disse.

A rapariga síria chegou a Gaziantep há um ano, quando a guerra a obrigou a fugir da sua cidade natal, Aleppo. Juntou-se a dois amigos, Maen e Youssif, que se consideram “meninos da revolução”, contra o presidente Bashar Assad e contra o ISIS. São os autores do site Daya Altaseh através do qual fazem circular os seus vídeos que parodiam o grupo terrorista, através, por exemplo do jogo de sucesso SuperMario.

Há um ano que começaram a gravar vídeos de skteches de humor contra o presidente do governo sírio e sobretudo contra o grupo terrorista. Os seus vídeos são divulgados em televisões locais no Médio Oriente. “Diziam que estávamos a ir contra a nossa religião. Nas últimas semanas um simpatizante do ISIS insultou-nos e divulgou o nosso trabalho. Isso animou-nos, já que esse é o nosso objetivo: que as pessoas descubram o que é o verdadeiro Islão deles”, disse Aya Brown.

A Internet tem servido de campo de batalha, onde se utiliza o humor como ferramenta de contra-propaganda. O caso do site Daya Altaseh é um exemplo, mas há outros. Uma das primeiras imagens veiculadas satirizava Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico no Iraque, que no seu primeiro discurso do ISIS aparecia com um relógio de luxo no pulso. A imagem serviu de mote para várias fotomontagens, em que o líder aparecia a fazer publicidade a um relógio Omega, que até deu origem à criação de uma conta no Twitter Baghdadi Al-Rolexi, a rede social mais utilizada pelos jihadistas.

omega

No youtube, um inglês de 30 anos, Humza Arshad também tem um canal de sucesso que se tornou viral. O filho de paquistaneses decidiu criar uma espécie de rubrica “O Diário de um homem mau”, onde publica várias sátiras sobre o grupo terrorista.

“O humor tem muita tradição nos países do Médio Oriente”, explicou Richard Barrett, um membro da consultora Soufan Group, responsável da luta antiterrorista do MI6 britânico, ao El Mundo.  “Além disso, ajuda a mostrar diferentes imagens de terroristas e dos lugares, o que é fundamental para derrotá-los”, acrescentou.

Mas o humor e a sátira têm limitações e podem provocar o efeito oposto. Nos anos 90, Mubin Shaikh, um indiano de 39 anos, foi capturado pelo grupo talibã para ajudar a recrutar outros jovens como ele. Agora vive no Canadá e conta ao El Mundo e tornou-se uma ajuda para as forças de seguranç. Ele considera que “há maneiras diferentes de utilizar o humor”. “Podemos rir-nos, mas com respeito. Tem havido montagens que misturavam o ISIS com pornografia e isso não funciona. No Ocidente podemos rir-nos, mas do outro lado isso pode ser visto como uma ofensa”, acrescenta.