O dia de terça-feira serviria para ser uma demonstração de força, assim como uma equipa de futebol quando joga em casa e põe todo o fogo na frente de ataque. António Costa até pôs vários pontas-de-lança: Jorge Coelho ao almoço, Manuel Alegre e Fernando Medina à noite. Uma espécie de fazer valer o slogan de Mário Soares de que “quanto mais a luta aquece, mais força tem o PS”, que se ouviu recuperado pelos jotas. Costa tem feito a metáfora: as eleições não são um campeonato que se joga por pontos, mas uma final da taça que se decide num jogo. Hoje até foi ao Barreiro onde lhe lembraram que dali saíram muitos jogadores para o Benfica, clube do coração de Costa, e que no ano passado dominou, mas este ano perde nos encontros decisivos. A metáfora continua?

“Estamos todos nervosos”. O desabafo foi feito por um elemento do núcleo duro da caravana no meio da descida da Morais Soares. A tradicional arruada lisboeta foi mesmo a melhor demonstração de força do dia de António Costa. O dia estava preparado para começar com um almoço em Setúbal, onde o PS é forte, mas onde empatou há quatro anos. Depois uma ida até ao Barreiro, bastião comunista. E o desfecho com o grande comício de Lisboa. A táctica e a estratégia era esta: o almoço de Setúbal ao ar livre foi numa praça pequena da cidade sadina, a arruada do Barreiro estava composta, mas com muita máquina do partido e o comício de Lisboa contava com 800 lugares sentados e apesar de ter ficado muita gente de pé, não encheu mais do que uma pequena parte da FIL. A força de Costa está mais nos discursos e é isso que tem preparado para a noite (pode ler em direto aqui) e menos nas ruas.

Tem sido aliás esse o padrão da campanha do PS: Costa fala, mas sobretudo em comícios. Nas ruas, mesmo na descida da Morais Soares que parte acabou por fechar ao trânsto, estava muita gente, mas pouca conversa. Ouviram-se comparações a Mário Soares, o candidato feliz a dizer ao diretor de campanha que “está muita gente atrás”, abraços, beijinhos e acenos para janelas. O candidato foi ouvindo ao longo do dia pedidos para “os tirar de lá senão eles acabam com o resto”, disse-lhe um senhor no Barreiro, ou outro senhor em Lisboa que decidiu queixar-se das ruas e dizer que Costa anda “relaxado”. Costa sorri.

A onda e a dinâmica de vitória só a sentiu quando chegou a casa. A banda que ia à frente cantava “cheira bem, cheira a Lisboa”. Cheirará a vitória? O candidato acredita que sim, a gente de casa acolhe-o como ele não tem sentido nas ruas. Os indecisos nas sondagens fazem-se sentir na rua e há mais apatia do que esperado. No final da arruada da Morais Soares disse aos presentes que “até domingo” têm de lutar “voto a voto” porque “é cada voto que conta para a maioria que o PS precisa para governar”. De megafone na mão e em cima do paredão do metro, disse que “só o voto no PS permite um governo que faça a mudança necessária”.

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O regresso a Lisboa pode dar-lhe algum ânimo para a recta final, num dia em que caíram notícias que pouco aproveitou politicamente. De manhã foi Eduardo Cabrita a reagir aos dados do desemprego e a falar da notícia de que teria havido adulteração dos números da Parvalorem, gestora pública dos ativos tóxicos do ex-BPN. Costa falou apenas de “truques” que a coligação usa e pouco mais. “Ainda hoje foram apanhados mais uma vez, num truque que fizeram para enganar as contas de 2012 (…), E o que resta saber é quantos truques fizeram para enganar as contas de 2012 e por aí fora”, disse.