Livros com 50 receitas (ou mais) há tantos como chapéus. Assim, é natural que esse não seja, longe disso, o número mais impressionante acerca do recém-lançado Viagens pelas Receitas de Portugal, uma parceria entre o premiado blogger Nelson Carvalheiro e a Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia (APTECE).

Impressionam mais os 32 dias que durou a viagem pelo país que deu origem ao livro, os mais de 5000 quilómetros percorridos pelos autores, as cerca de 300 aldeias e vilas visitadas onde se entrevistaram mais de 30 produtores, pescadores e agricultores, não menorizando a passagem por quase 90 restaurantes onde foram servidos 250 pratos. Tudo somado, 30 000 fotografias para editar e 50 horas de gravação áudio para transcrever. Isso sim, impressiona.

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O livro é editado pela Caminho das Palavras e custa 22€.

Também não é menos impressionante, diga-se (escreva-se), o percurso de Nelson Carvalheiro, que é quem assina esta obra (enriquecida pelas fotografias do italiano Emanuele Siracusa). Apesar de ter lançado o o seu blogue apenas em 2013, não demorou a ganhar reconhecimento: no ano seguinte foi considerado o melhor blogue de viagens europeu e já este ano foi distinguido na FITUR — Feira Internacional de Turismo de Madrid na área de gastronomia e viagens.

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Aqui, ao contrário do que acontece na sua plataforma, Nélson escreve em português. E escreve sobre tudo um pouco, com um denominador comum: a gastronomia nacional. Das conversas com um pescador de Peniche, Zé Manel, à revelação do(s) segredo(s) do pão-de-ló de Ovar, passando pelo elogio às cerejas de Ti João, da Cova da Beira ou a recordação da importância dos judeus na origem das alheiras transmontanas. De Tavira a Monção, de Vila do Bispo a Bragança, há textos relativos à cozinha e produtos de todo o país, excetuando as ilhas.

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Uma das 50 receitas da obra: Choco Frito à Setubalense.

As receitas do livro, as tais 50 de que fala o título, também têm diferente origens e graus de complexidade. E nem tudo é para comer de garfo e faca: também se ensina a fazer um abafadinho à moda das vinhas do senhor João, da Taberna do Alfaiate, no Cartaxo, ou um pudim de Abade de Priscos segundo as regras da bracarense Doçaria Cruz de Pedra. Tudo isto para mostrar um país que leva muito a sério a sua herança gastronómica e onde há, ainda — e felizmente –, muita autenticidade escondida por descobrir. Fica aberto o apetite.