Muitas cidades, entre as quais Lisboa, não foram pensadas para acolher pessoas idosas, faltando pavimentos razoáveis, proteção em relação aos automóveis, passadeiras e zonas com limite de velocidade, defende o arquiteto António Batista Coelho.

“As pessoas mais idosas precisam de condições ideais para se deslocarem e o ideal não é nada do outro mundo. São pavimentos razoáveis, alguma proteção em relação ao automóvel, com continuidades, passadeiras bem pintadas, zonas [com limite de velocidade] de 30 ou 20 em certos sítios”, explicou o responsável pelo departamento de arquitetura da Universidade da Beira Interior (UBI).

A 1 de outubro assinala-se o Dia Internacional das Pessoas Idosas e o tema é sobre ambientes urbanos sustentáveis e inclusivos, de forma a antecipar a terceira conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável, que irá decorrer em 2016.

Segundo as Nações Unidas, a mobilidade das pessoas para as cidades está a fazer-se a um ritmo recorde, “sendo expectável que seis em cada dez pessoas no mundo resida em áreas urbanas em 2030” e o número está a aumentar mais rapidamente nos meios urbanos dos países em desenvolvimento.

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“O efeito combinado destes dois fenómenos significa que o número de pessoas com 60 ou mais anos que vivem nas cidades poderá crescer para mais de 900 milhões até 2050, o que representa um quarto da população urbana total nos países em desenvolvimento”, aponta a ONU.

Em declarações à agência Lusa, o arquiteto António Batista Coelho apontou que, de uma forma genérica, a cidade de Lisboa não está pensada ou preparada para as pessoas mais idosas.

“Era essencial que a cidade fosse estruturada ou reestruturada com base no peão, o que significa criar vizinhanças em que o peão se sinta melhor ou o melhor possível e em que haja continuidades nessas vizinhas para que, se quiser, possa deslocar-se com alguma segurança, com alguma comodidade”, defendeu o antigo coordenador do núcleo de arquitetura e urbanismo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

O idoso é o peão mais sensível que, para se deslocar, precisa de condições mais confortáveis do que as pessoas que têm o uso pleno das suas faculdades motoras. Nesse sentido, defendeu que o padrão pensado e usado para a pessoa idosa deveria ser a base para todos os cidadãos, no sentido de tornar as cidades mais amigáveis, mais passeáveis, em termos de conforto e de proteção em relação aos automóveis.

Admitiu que se trata de um trabalho que não se faz de um dia para o outro, mas deu como exemplo as ciclovias que têm vindo a ser construídas para sugerir que agora se pensem em estruturas só para os peões, idealizadas de maneira a ligarem os vários bairros.

“Temos um bom clima para estar na rua e os idosos estão na rua sempre que podem. Temos de criar o máximo de condições para que as pessoas, designadamente os idosos, possam estar intensa e prolongadamente no exterior”, disse. Se isso for feito, acrescentou, o espaço público na área urbana será usado por todos de uma forma mais estimulante e encarado como um prolongamento da casa.

“Estamos perfeitamente a tempo de conjugar os bairros, de dar uma certa estrutura entre bairros, e conjugar com uma estrutura verde de modo a pessoa poder passear”, apontou. A ONU refere que as cidades bem planeadas têm mais probabilidades de gerar riqueza e oportunidades educacionais, além de habitação e ambientes urbanos mais acessíveis e seguros para os mais idosos.

Com a comemoração deste ano, as Nações Unidas espera conseguir demonstrar que uma agenda inclusiva no que respeita à idade é crucial para promover a equidade, o bem-estar e uma prosperidade partilhada para todos, em ambientes urbanos sustentáveis.