Assinalando que “foi aberto um processo para o esclarecimento das reais circunstâncias do incidente” de sexta-feira, no distrito de Gondola, província de Manica, centro do país, o porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique, Inácio Dina, afirmou que, além do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a ação criminal visa igualmente todos os integrantes da sua comitiva e as autoridades pretendem identificar o autor do disparo que matou o motorista de um carro de transporte de passageiros.

“O líder da Renamo também faz parte dos que vêm no processo. Estamos à espera de dados completos para saber onde está Dhlakama. Se estiver com algum medo da população, que se apresente à polícia, pois esta o vai proteger”, disse Inácio Dina, citado esta quarta-feira na imprensa moçambicana.

As autoridades moçambicanas afirmam que foi na sequência do disparo que matou o motorista que as forças de defesa e segurança se deslocaram ao local para repor a ordem e acabaram por se envolver em confrontos com a escolta do líder do principal partido da oposição. Em conferência de imprensa no final da sessão do Conselho de Ministros, o porta-voz do órgão, Mouzinho Saíde, disse, na terça-feira, que o número de mortos no incidente com a comitiva do líder da Renamo subiu de 20 para 24.

Segundo o porta-voz do Conselho de Ministros, 23 militares da Renamo morreram no incidente, a que se somou um civil. “Nesta ocorrência, foram registadas oito viaturas incendiadas pela população e houve a recuperação de quatro viaturas pelas forças de defesa e segurança”, disse Mouzinho Saíde, acrescentando que as autoridades “estão a trabalhar para esclarecer a situação na província de Manica e para garantir a lei e ordem”.

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O líder da Renamo disse à Lusa na sexta-feira que foi alvo de uma emboscada das forças de defesa e segurança, mas a polícia rebateu esta versão, sustentando que foi a comitiva de Dhlakama que provocou o incidente ao assassinar o motorista de um ‘chapa’ (carrinha de transporte semipúblico) que passava no local.

A Renamo afirmou que resultaram desde incidente sete mortos entre a comitiva de Dhlakama e dezenas entre os alegados atacantes, um balanço bastante abaixo dos primeiros números divulgados pela polícia e agravados na terça-feira pelo Governo.

Dhlakama encontra-se em lugar desconhecido desde sexta-feira, embora a Renamo assegure que esteja bem de saúde e a controlar o seu partido, apelando para a não-retaliação.  Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de setembro a comitiva de Dhlakama ter sido atacada perto do Chimoio, também na província de Manica.

Na altura, a Frelimo acusou a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar. Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército.

Moçambique vive sob o espetro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.