O presidente da Proforum, Ilídio de Ayla Serôdio, que esta quarta-feira apresentou o ranking de competitividade mundial promovido pelo Fórum Econónimo Mundial não tem dúvidas. “O BES teve um efeito muito grande aqui”. E por ‘aqui’, leia-se, na queda de dois lugares do país. Portugal está em 38º lugar na análise para 2015-2016, situando-se entre as dez economia desenvolvidas que ficaram em pior lugar.

“Caímos três posições no setor financeiro e nos bancos caímos nove posições. Estamos em 120º lugar em 140 países”, disse ao Observador, acrescentando que as instituições bancárias foram obrigadas a refletir as imparidades nos balanços – as entidades internacionais “puseram os bancos a refletir a realidade e isso afeta-nos”.

“O Governo está a tentar lidar com o problema do BES com pinças, que é um problema complicado por uma razão muito simples: a família Espírito Santo não quis diluir a sua posição no banco, quando todos o fizeram”, disse, acrescentando que o BES “não aguentou por causa deste pecado capital, porque podiam ter feito o mesmo que o BCP fez com os aumentos substanciais de capital, por exemplo”, afirmou o líder da Proforum.

Luís Filipe Pereira, presidente do Fórum de Administradores e Gestores de empresas (FAE), também traz o BES para a conversa.  “Este ano, houve a questão financeira que foi bastante penalizada por causa do acesso ao crédito e eventualmente por causa do problema do BES, que nos fez descer alguns lugares, Mas é preciso pôr isso em relação. Temos de olhar para isto como um todo”, disse ao Observador.

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Na conferência de apresentação do estudo, acrscentou que o “BES poderia ter sido prevenido parcialmente com uma supervisão mais em cima“, disse. “É uma opinião, mas não podemos negar que se tivessemos tido atuações de supervisão mais atempada os resultados poderiam ser outros”, referiu.

Gerar riqueza e exportar mais

Luís Filipe Pereira demonstra que Portugal teve grandes progressos nalgumas áreas, como na eficiência do mercado de trabalho e que a descida de dois lugares não se “deveu tanto à diminuição da nossa posição – no ano passado tivemos uma pontuação total de 4,52 e este ano tivemos 4,54 -, mas mais ao facto de outros dois países, a República Checa e a Lituânia, terem-se colocado à frente.

Desde 2013 que Portugal estava a subir no ranking. Há dois anos, ocupava o 51º lugar e há três anos estava em 49º, depois de ter caído entre 2006 e 2013. “Acho que cada vez mais temos de nos focar naquilo que é decisivo”, diz o presidente da FAE. E o que é decisivo? Gerar riqueza, segundo Luís Filipe Pereira.

“Ao gerar riqueza, podemos dar melhores condições de vida à população, melhor bem-estar. E isso tem a ver com competitividade. Temos de debater publicamente e sensibilizar a opinião pública para a questão da competitividade”, afirmou.

Ilídio Serôdio põe o enfoque nos empresários. Devem melhorar a sua capacidade, melhorar os negócios com mais exportações, diz. “O mercado interno ainda está muito contraído e temos de pôr alguma pressão sobre o Governo, porque aqui há temas que realmente afectam. Os impostos são um exemplo: têm subido sistematicamente nos últimos quatro anos. E isso é uma preocupação dos governos”, referiu.

O presidente da Proforum lembrou que o país tem de olhar para a capacidade de as empresas criarem emprego para promoverem a competitividade.

“Não são os governos que criam emprego. A área política deve facilitar e ter políticas públicas adequadas, com justiça social e políticas de distribuição de riqueza, por exemplo, com um fisco mais amigo do contribuinte.

E quanto ao investimento direto estrangeiro, o líder da Proforum referiu que é preciso chamar a atenção dos investidores para outras áreas de atividade que não o turismo. “O turismo tem sido fantástico, mas quando estamos a falar de empresas que querem vir para Portugal para atuar no mercado internacional, Portugal tem de ter condições laborais melhores ou de financiamento”, referiu.

“Dívida pública mais decente para descer impostos”

Para Jorge Ribeirinho Machado, professor da AESE Business School, os resultados do ranking mostram que “as reformas funcionam” e exemplifica com as estradas, o Simplex ou o trabalho de concertação social. E aponta a dívida pública. “Estamos mal na dívida pública e aqui não aparece as dívidas das famílias. Estamos mal nos impostos e só vamos conseguir descer impostos quando tivermos uma dívida pública mais decente. E esse é o problema fundamental da economia portuguesa”, disse.

O relatório da competitividade mundial foi apresentado esta quarta-feira pela Profroum – Associação para o Desenvolvimento da Engenharia e pela FAE na AESE Business School.