Na última quarta-feira o parlamento russo aprovou a utilização de forças militares no estrangeiro. Esta decisão vem na sequência de um pedido de ajuda oficial por parte de Damasco. E essa ajuda não se fez esperar. Horas depois da aprovação por parte do parlamento, a Rússia lançou um ataque aéreo na Síria.

A intervenção militar suscitou, no entanto, dúvidas, em muitos países ocidentais, sobre os alvos visados: elementos do grupo extremista Estado Islâmico ou rebeldes, o que já motivou diversas reações de potências como a França, Estados Unidos da América e Alemanha. Há vários relatos que dão conta que o ataque não atingiu qualquer posição do Estado Islâmico, matando vários civis incluindo mulheres e crianças.

A Rússia já reagiu a estas acusações, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, classificando-as como “infundadas”.

“Os rumores de que os alvos destes ataques aéreos não são as posições do Estado Islâmico são infundados”, disse Sergei Lavrov aos jornalistas, após uma reunião com o seu homólogo norte-americano, John Kerry, em Nova Iorque, acrescentando que “não tinha dados” sobre vítimas mortais civis.

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EUA apoiam ataques russos que tenham como alvo ‘jihadistas’. Mas Assad terá de sair

Os Estados Unidos irão apoiar os ataques aéreos russos na Síria que tenham como alvo o grupo extremista Estado Islâmico, mas advertem que o Presidente sírio terá de deixar o poder, disse esta quarta-feira o chefe da diplomacia norte-americana.

O secretário de Estado norte-americano falava no Conselho de Segurança das Nações Unidas, algumas horas depois de a Rússia ter realizado os primeiros ataques aéreos na Síria, aparentemente numa manobra de apoio à luta do regime de Bashar al-Assad contra o terrorismo e a violência extremista. “Se as recentes ações da Rússia e aquelas em curso refletirem um compromisso genuíno para derrotar essa organização [Estado Islâmico (EI)], então estamos preparados para acolher esses esforços”, declarou John Kerry.

Kerry acrescentou ainda que as forças americanas, estão preparadas para estar em contacto com as forças russas, de forma a evitar situações acidentais no campo de batalha e “aumentar assim a pressão militar sob o EI”. Sobre esta situação, os chefes de diplomacia dos dois países anunciaram, entretanto, o acordo para a realização de breves conversações entre os respetivos comandos militares sobre os bombardeamentos na Síria contra o grupo extremista Estado Islâmico. O acordo tem como objetivo “evitar incidentes indesejados”, explicou o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.

United States Secretary of State John Kerry (R) and Russia Foreign Minister Sergey Lavrov speak to the media after a meeting concerning Syria at the United Nations headquarters in New York on September 30, 2015. Russia's air strikes in Syria targeted opposition forces and not Islamic State jihadists, a US defense official said, contradicting Russian claims. At the United Nations in New York, Secretary of State John Kerry made clear that Washington would have "grave concerns" should Moscow opt to strike targets in areas where IS fighters and Al-Qaeda-linked groups are not operating. AFP PHOTO/Dominick Reuter (Photo credit should read DOMINICK REUTER/AFP/Getty Images)

John Kerry encontrou-se com Sergey Lavrov nas Nações Unidas

“Mas, não devemos e não será confundida a nossa luta contra o EI com o apoio a Assad”, frisou o chefe da diplomacia norte-americana, acrescentando ainda que Washington irá encarar com uma grave preocupação caso os ataques russos tenham como alvos zonas onde os ‘jihadistas’ e a rede terrorista Al-Qaida não estejam operacionais.

“Ataques desse tipo iria colocar em causa as verdadeiras intenções da Rússia na luta contra o EI ou na proteção do regime de Assad”, advertiu.

Informações preliminares sobre os primeiros bombardeamentos aéreos russos na Síria sugerem que as forças de Moscovo atingiram áreas onde grupos da oposição síria, encarados pelos Estados Unidos e pelos aliados internacionais como moderados, têm lutado contra as forças de Bashar al-Assad.

O presidente da Coligação Nacional Síria (CNFROS), o principal grupo da oposição síria, assegurou esta quinta-feira que os ataques russos no norte da província síria de Homs mataram 36 civis.

Na rede social Twitter, Jaled Joya, que está a assistir à Assembleia-geral da ONU em Nova Iorque, afirmou que as áreas atacadas pelos aviões russos “estavam livres do EI e da Al-Qaeda”. A televisão oficial síria informou também que as forças aéreas russas, em colaboração com as forças do regime de Damasco, bombardearam quarta-feira vários alvos ‘jihadistas’ nas províncias de Hama e Homs, no centro da Síria.

Intervenção russa está “condenada ao fracasso” – secretário da Defesa dos EUA

Em sentido inverso está o secretário da Defesa norte-americano, Ashton Carter, que não teve problemas em afirmar que a intervenção da Rússia na Síria está “condenada ao fracasso”.

Falando numa conferência de imprensa no Pentágono, o secretário da Defesa dos EUA considerou ainda que o que a Rússia está a fazer “é errado e contraproducente” e que os primeiros ataques russos provavelmente não visaram o grupo Estado Islâmico (EI), ao contrário das intenções manifestadas por Moscovo.

“Parece que [as tropas russas] estavam em zonas onde não havia nenhum grupo das forças do Estado Islâmico”, afirmou Ashton Carter.

Para o responsável norte-americano, a estratégia russa para a Síria não prevê uma transição política nem a saída de Bashar al-Assad, pelo que pode lançar “lenha na fogueira” do conflito. “A nossa posição é clara: a derrota do grupo Estado Islâmico e do extremismo na Síria não pode ser conseguida sem que, em paralelo, se faça uma transição política na Síria”, esclareceu Carter.

Alemanha quer que Rússia esclareça “objetivos e métodos” dos ataques à Síria

O Governo alemão instou esta quinta-feira a Rússia a esclarecer “os objetivos e métodos” utilizados nos ataques iniciados na Síria, expressando a sua preocupação pelos efeitos sobre a própria Rússia.

“Por agora, não temos informações sólidas acerca dos objetivos e métodos utilizados nos ataques aéreos. Por interesse próprio, a Rússia deve preocupar-se em esclarecer o assunto o quanto antes”, indicou o ministro dos Assuntos Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, num comunicado enviado de Nova Iorque, onde participa na Assembleia-Geral da ONU.

Steinmeier recordou que o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, sublinhou esta quinta-fera, a partir de Nova Iorque, a necessidade de coordenar os esforços internacionais para combater o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico.

O ministro alemão expressou, ainda assim, a sua esperança em que esses ataques “não causem maiores mal-entendidos”, despois de ter sido tão difícil abrir de novo a porta ao diálogo entre os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Rússia, Vladimir Putin.

MNE francês – Ataques russos podem não ter visado Estado Islâmico 

Os primeiros bombardeamentos aéreos da Rússia na Síria podem não ter visado o grupo extremista Estado Islâmico, afirmou esta quarta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius.

Há “indícios de que os ataques russos não visaram o Daesh”, disse o ministro a jornalistas em Nova Iorque, referindo-se ao Estado Islâmico.

Fabius acrescentou que “importa verificar quais foram os objetivos” dos aviões russos.