Um tio e um primo de Ricardo Salgado prestaram declarações ao regulador do mercado financeiro da Suíça nas quais atribuem ao ex-líder do GES e do BES a responsabilidade de todas as decisões tomadas pelo Banque Privée Espírito Santo (BPES). O conteúdo dessas declarações é revelado esta quinta-feira pela revista Visão, que escreve que António Ricciardi (pai de José Maria Ricciardi e tio de Salgado) e José Manuel Espírito Santo (primo de Salgado e presidente do BPES) falaram com as autoridades suíças entre janeiro e abril deste ano.

Os investigadores do FINMA (Autoridade Federal de Vigilância dos Mercados Financeiros suíça) estão interessados em perceber como faliu o BPES. Nesse sentido, diz a Visão, questionaram António Ricciardi sobre José Pedro Caldeira, diretor-executivo do banco, um nome até agora pouco referido em todo o processo de queda do GES. “Creio que ele não tem nada a ver com todo este desastre”, responde o interrogado, para logo a seguir completar: “É uma questão automática, era Salgado quem comandava. O dr. Caldeira era um excelente funcionário, mas o dr. Salgado tinha demasiado poder e toda a gente fazia o que ele dizia”. Sobre o mesmo assunto, José Manuel Espírito Santo deu a entender, segundo os documentos citados pela Visão, que Salgado queria afastar José Pedro Caldeira do banco.

A ideia de que Ricardo Salgado tinha o poder máximo dentro do Grupo Espírito Santo é reforçada quando os investigadores querem saber quem é José Castella, antigo responsável pelo controlo financeiro da área não financeira do GES. “Salgado centralizava tudo”, resume Ricciardi, que é depois confrontado com a pergunta: “Como eram as reuniões? Eram um one man show do dr. Salgado?”. A resposta: “Eram, de facto.”

O FINMA quis também perceber porque é que Ricardo Salgado quis manter uma contabilidade paralela do GES. “Havia coisas que não corriam bem e que se esconderam porque o dr. Salgado tinha uma reputação nacional e internacional extraordinária. Era um génio”, resume Ricciardi, no que é secundado por José Manuel Espírito Santo: “Nunca imaginei que um homem com este estatuto, desta envergadura, poderia esconder ou mandar esconder.”

O advogado de Salgado na Suíça, ex-bastonário da Ordem dos Advogados naquele país, enviou entretanto um esclarecimento ao Observador a propósito do artigo da Visão. “Confirmo que a Swiss Financial Market Supervisory Authority conduz atualmente uma investigação sobre a falência da Banque Privée Espirito Santo na Suíça”, lê-se na nota, que sublinha que se trata, “apenas, de uma investigação administrativa”. Marc Bonnant escreve ainda que Ricardo Salgado “foi ouvido voluntariamente na qualidade de testemunha” pelo FINMA.

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