A história do neozelandês Tom Neale, contada pelo Atlas Obscura, começou em 1943, quando ouviu do escritor e viajante Robert Frisbie a seguinte frase:

Tom Neale, Suvorov é o sítio mais bonito de toda a Terra, e nenhum homem viveu realmente até lá ter vivido.

A frase ficou registada no livro “Uma ilha só para um”, de Tom Neale, que conta como o próprio passou 16 anos na ilha. Essa foi a primeira vez que Neale ouviu falar do atol (uma ilha de coral que rodeia uma lagoa interior) de Suwarrow, ou Suvarov, como também é chamado.

Dois anos depois, em 1945, um navio passou pelo isolado atol (que fica a sensivelmente 320 quilómetros da terra povoada mais próxima) para deixar mantimentos aos vigias costeiros neozelandeses que os aliados, aquando da II Guerra Mundial, lá tinham instalado. Tom Neale foi nesse navio e, encantado com o que viu, decidiu que um dia viveria em Suwarrow, onde podia ter uma vida simples e isolada da civilização.

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A primeira estadia

Em 1952, sete anos depois, Tom Neale partiu de vez para Suwarrow, que se encontrava desabitado desde o fim da Guerra. Mas não sem antes preparar devidamente a estadia e a viagem marítima, que demoraria seis dias a fazer: comprou mantimentos em quantidades industriais em Rarotonga, a ilha em que vivia, e escolheu para futuros companheiros de vida dois gatos: Mrs. Thievery e Mr. Tom-Tom.

Na ilha, Tom Neale viveu numa cabana, onde antes se tinham instalado os vigias costeiros neozelandeses. A vida de Tom Neale era condicionada pela falta de eletricidade: aproveitava a luz do dia para construir, limpar e cuidar o jardim que construiu, e acabava o dia a ver o pôr do sol na praia. A vida era organizada: Tom Neale mantinha o quarto arrumado, tinha uma toalha de mesa para usar no espaço das refeições e usava todas as comodidades que tanto tempo passara a preparar.

Assim passaram os seus primeiros meses em Suwarrow, até à chegada, em 1953, das primeiras visitas: dois casais que vieram passar uns dias à ilha. E foi após a partida destes que Neale decidiu iniciar uma nova tarefa: reconstruir um paredão deteriorado que lá existia. O trabalho durou seis meses e teve um final inglório, já que, no dia seguinte à conclusão da obra, uma forte tempestade assolou Suwarrow e destruiu toda a estrutura.

A primeira estadia na ilha, que durou cerca de dois anos, terminou em 1954. A causa foi o aparecimento de agonizantes dores de costas, que o deixaram imobilizado durante quatro dias na ilha deserta. Por sorte, dois turistas americanos chegaram e ajudaram Tom Neale, que veria duas semanas mais tarde chegar um navio que o traria de volta à civilização.

O regresso a Rarotonga, de onde viera, demorou mais do que o desejado. Uma proibição do governo neozelandês impediu-o de regressar a Suwarrow logo após a sua recuperação, deixando-o durante seis anos no sítio de onde partira rumo a uma existência solitária, preso ao stress de que queria novamente escapar.

As duas estadias seguintes:

Tom Neale teria ainda mais duas estadias no atol. A primeira, de 1960 a 1964, foi interrompida pelo incómodo que lhe criavam os turistas, que vinham fazer mergulho nos mares de Suwarrow à procura de pérolas. A última, de dez anos, começou em 1967 e acabou em 1977. Nesse ano, quando descobriu que tinha cancro no estômago, voltou a Rarotonga, onde acabaria por morrer.

Segundo relatado pelo Atlas Obscura, Tom Neale terá escrito no seu livro que, nos poucos momentos em que sentiu a falta de companhia na ilha, não era por sentir solidão. Era apenas porque, diz:

Tudo aquilo era tão bonito que parecia egoísta não o partilhar com ninguém.