Associar o ideal de beleza feminina aos seis dígitos tornados célebres na época áurea das supermodelos, 86-60-86, é algo que está hoje tão datado como algumas cenas do programa homónimo da RTP, apresentado entre 1994 e 1998 por Sofia Aparício, como comprova o YouTube.

Expressões como “body positivity” — a capacidade de encarar qualquer tipo de corpo de forma positiva — estão a entrar no léxico comum de quem escreve sobre estes assuntos de forma recorrente, ao mesmo tempo que as chamadas modelos “plus size“, como Tess Holiday ou Nadia Aboulhosn vão ganhando cada vez mais relevância e tempo de passerelle, ajudando pelo caminho a quebrar preconceitos e alargar o espectro daquilo que é, ou pode ser, considerado belo.

Uma prova concreta desta mudança de mentalidade chega, talvez, de onde menos se espera: a pornografia. O PornHub, um dos maiores portais da especialidade, revelou recentemente através do seu site estatístico Insights (onde a única coisa explícita são os números) que as pesquisas por “BBW”, acrónimo de Big Beautiful Women, aumentaram 47% entre maio de 2013 e agosto deste ano.

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“O ‘corpo ideal’ é coisa do passado. Este ano tem sido uma celebração do positivismo corporal, da defesa das curvas e de encontrar beleza e sex appeal em todos os diferentes tipos de constituição física. Acho que há uma correspondência absoluta entre isto e o aumento das pesquisas por BBW”, disse ao Mic, a propósito deste estudo, Corey Price, vice-presidente de operações do Pornhub.

Para reforçar, ou não, as conclusões do responsável, nada como consultar outro (porno)gráfico, que destrinça a referida pesquisa por continentes e respetivas regiões.

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Em África, o número de ocorrências do termo é 65% superior à média de todos os continentes. Na América do Norte essa percentagem cifra-se nos 10% e na Europa o número de pesquisas desce abaixo da média em 13%. O facto de o número de pesquisas não chegar à média mundial não quer dizer muito: apesar de as pesquisas por BBW na Ásia serem 16% inferiores a essa média, registou-se um aumento de 162% no Japão ao longo do último ano.

E apesar de se poder especular que os números não pintam o quadro completo será seguro atribuir parte desta estatística, pelo menos, a uma mudança de paradigma. Resumindo, não falta quem esteja aí para as curvas. E ainda bem.