A avaliação regular do desempenho escolar com base em dados fidedignos, que abranja alunos, professores e diretores, deve ser a base da melhoria dos resultados escolares, sustenta um estudo que defende mais momentos de avaliação por ciclo de ensino.

Da autoria de Margaret Raymond, investigadora do Centro de Investigação em Resultados Educativos da norte-americana Universidade de Stanford, o estudo propõe um modelo denominado Sistema de Garantia de Desempenho Educativo, que assenta na ideia de que as políticas na área da Educação devem privilegiar métodos quantitativos, de medição de dados estatísticos, para determinar e avaliar a qualidade do trabalho desenvolvido pelas escolas.

O documento é apresentado na quinta-feira, em Lisboa, inserido no Mês da Educação, promovido ao longo de outubro, com várias iniciativas pelo país, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).

No estudo defende-se que, depois de estabelecidas quais devem ser as metas de aprendizagem dos alunos, e as metas profissionais a alcançar por professores e diretores, deverá ser avaliado o trabalho de todos para determinar o seu sucesso — o progresso dos alunos e a qualidade dos professores — podendo, depois disso, inferir-se qual o grau de qualidade do estabelecimento de ensino.

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“Saber como os alunos estão a progredir relativamente aos padrões dos níveis primário e secundário pode ajudar os educadores e o Ministério a canalizar os apoios educativos para onde são mais necessários. Saber como está o desempenho dos professores e administradores pode ajudar a identificar os professores e as escolas com melhor desempenho, que poderão, então, servir como exemplo ou mentores para os outros. Estas informações também ajudarão os educadores a tomar as medidas necessárias para melhorar as suas capacidades profissionais”, defende-se no estudo.

A Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) seguiu o conselho deste estudo e disponibilizou também informação sobre o percurso escolar dos alunos do 2º e 3º ciclo. Segundo o jornal Público, estes indicadores, que têm como base o percurso individual de cada aluno, permite responder a questões como: será que terminou o 9º ano no tempo considerado normal? E a sua percentagem de sucesso terá sido superior de outros que, em anos anteriores, tiveram notas semelhantes? Estas perguntas podem ser respondidas através deste novo indicador da DGEEC chamado “promoção do sucesso escolar”.

A partir desta quarta-feira estarão também disponíveis no portal Infoescolas, lançado pelo Ministério da Educação e Ciência, novos dados que permitiram concluir que menos de metade dos alunos no ano letivo de 2014/2015 conseguiram chegar ao final do 3º ciclo com um “percurso de sucesso escolar”. Ou seja, dos 94.130 alunos que há três anos se inscreveram, pela primeira vez, no 7º ano, apenas 39.044 chegaram ao 9º ano sem nunca chumbar e com notas positivas nos exames nacionais de Português e Matemática.

O estudo sugere portanto algumas mudanças na avaliação dos alunos, como a introdução de mais testes ou exames intercalares, por ciclo de ensino, para poder aferir de forma mais fiável os progressos nos resultados escolares.

“A expansão do programa de testes de modo a abranger dois anos em cada ciclo de ensino daria aos professores, administradores, pais e responsáveis políticos uma visão mais clara acerca da eficácia das escolas. As avaliações precisam de rigor, profundidade e coerência”, lê-se no documento, que critica ainda a criação anual “a partir do zero” de testes e exames, por a considerar uma “abordagem extremamente dispendiosa”.

O Mês da Educação da FFMS arranca hoje com um debate no Fórum Lisboa, pelas 16:00, moderado pelo físico Carlos Fiolhais e com presença dos autores do livro “A Escola e o Desempenho dos Alunos”, entre os quais dois antigos ministros da Educação — David Justino e Maria do Carmo Seabra — e Margaret Raymond.

Ao longo do mês, em conferências pelo país, a FFMS vai ainda promover o debate de questões como a inclusão ou a formação de professores.