O Sindicato dos Trabalhadores Portuários acusou a Marinha de estar a iludir as pessoas sobre o naufrágio da Figueira da Foz e de o Instituto de Socorros a Náufragos não ter meios para acudir.

Em declarações à agência Lusa, Serafim Gomes, da direção do Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações e Juntas Portuárias, frisou que o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) não tinha meios disponíveis aquando do alerta, cerca das 19:15 de terça-feira, porque a estação salva-vidas da Figueira da Foz “fecha às 18:00”, dado que os seus funcionários “têm o regime normal da função pública como qualquer funcionário de secretaria”, acusou.

“O porta-voz da Marinha está a iludir as pessoas. Diz que os pescadores deviam usar coletes salva-vidas e que foi o estado do mar e as redes na água, mas não diz que o ISN não tinha meios para acudir quando o alerta foi dado”, frisou Serafim Gomes.

“Isto é uma situação incrível, que se arrasta há mais de uma década e que não serve para um socorro deste tipo. É como se os polícias e os bombeiros tivessem um horário limitado”, comparou.

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Um naufrágio na Figueira da Foz, na terça-feira, provocou um morto, havendo ainda quatro pescadores desaparecidos. Duas pessoas foram resgatadas com vida.

Por outro lado, Serafim Gomes revelou que o salva-vidas do ISN Patrão Macatrão, fundeado na Figueira da Foz, “está avariado há duas ou três semanas” e não podia ser utilizado.

“Se tivessem uma embarcação em condições e meios humanos, se calhar, nada disto tinha acontecido”, lamentou.

Serafim Gomes disse ainda que os capitães do porto possuem a “arte do desenrasca”, porque não havendo meios no ISN “mandam polícias marítimos que não têm preparação” para operações de salvamento.

Ouvido pela Lusa, o comandante Nuno Leitão, porta-voz da Autoridade Marítima, disse que as declarações de Serafim Gomes “não fazem qualquer tipo de sentido”, embora tenha admitido a avaria no salva-vidas do ISN.

“São declarações de quem não conhece minimamente a realidade de uma operação de busca e salvamento. Lamento que as pessoas, nestas alturas, apontem o dedo a outras pessoas que estão a fazer o seu melhor e com os meios todos disponíveis para o sucesso da missão”, frisou Nuno Leitão.

“Esse sucesso resultou em duas vidas salvas pelo meio empregue [uma moto de água]. Ontem, [terça-feira], as condições [de mar] não eram estas, não podíamos empregar um meio com hélices numa zona de redes como as que ainda estão dentro de água, sem visibilidade à noite e com rebentação. Estávamos a por profissionais em alto risco de vida”, alegou.

“Compreendo a tristeza [das pessoas], estou nessa tristeza também, foram vidas que se perderam, situações que se podiam ter evitado se as pessoas estivessem a envergar os coletes salva-vidas, se tivessem cumprido aquelas regras elementares que a Marinha e a Autoridade Marítima diariamente divulgam”, adiantou Nuno leitão.

“Agora, não podem estar a apontar o dedo a atrasos do salvamento quando aquilo que foi possível fazer foi feito” justificou

No entanto, Nuno Leitão admitiu que o salva-vidas do ISN “está avariado”.

“A avaria que tem é uma avaria normal, está a espera de peças para ser reparado. A capacidade da estação salva-vidas nunca deixou de estar em causa”, garantiu.

O porta-voz da Autoridade Marítima frisou que ainda que se a embarcação do ISN estivesse em condições de ser utilizada “não tinha qualquer tipo de empregabilidade” no socorro, por ser um navio “grande, com capacidade oceânica”.

Apesar da explicação do porta-voz da Autoridade Marítima sobre a falta de adequação do salva-vidas do ISN à operação, vários pescadores lembraram que há cerca de dois anos, em outubro de 2013, o “Patrão Macatrão” salvou cinco pescadores num naufrágio de uma embarcação de pesca, sensivelmente na mesma zona do acidente do arrastão Olívia Ribau, junto à barra da Figueira da Foz e com condições adversas de mar.