Jacqueline e Robert Kennedy, mulher e irmão do presidente John Fitzgerald Kennedy (JFK) censuraram e editaram o legado do ex-presidente, com o objetivo de cultivar a mística do carismático líder dos Estados Unidos da América. Quem o afirma é o historiador Timothy Naftali, segundo The Guardian.
Timothy Naftali proferiu as declarações na terça-feira, na Universidade de Nova Iorque, onde falou sobre os documentos recentemente desclassificados relativos à presidência de John Fitzgerald Kennedy. E que segundo ele revelam um presidente “esperto e cauteloso”.
O historiador diz que os documentos registam detalhes até agora desconhecidos sobre JFK e que revelam que era um homem reservado, mas indulgente consigo próprio, e cuja família se preocupava tanto como ele com a sua imagem pública.
Kennedy era “muito mais interessante intelectualmente do que pessoalmente” do que a família e amigos queriam que se soubesse, disse Naftali ao The Guardian.
E quanto a revelações? Segundo o historiador, Kennedy não queria ordenar a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961. Mas deu a ordem porque se sentia encurralado e precisava de mostrar politicamente que estava contra Fidel Castro, que tinha pedido ajuda à União Soviética. As gravações revelam que JFK enviou o seu irmão Robert para manter conversações secretas com o espião soviético Georgi Bolshakov e que decidiu prosseguir as negociações com a ajuda do irmão e contra os conselhos do seu gabinete.
“Kennedy não queria ‘suportar tudo, nem pagar qualquer preço’, mas queria ser um político e queria ser amado,” disse Timothy Naftali.
O presidente JFK era um homem reservado, não só politicamente, mas também na sua vida privada. E nem os amigos o conheciam bem, segundo o historiador. O presidente tinha um “gravador secreto” no gabinete, e os seus assistentes implementaram o “sistema das namoradas” – assim o caracteriza Naftali – através do qual facilitavam a entrada de mulheres nos seus aposentos.
Estes documentos desclassificados pela Casa Branca também oferecem novas pistas sobre a faceta de mulherengo de Kennedy sobre a qual se especulou durante décadas. Uma dessas pistas é o registo dos voos presidenciais onde por vezes surge o nome de Mimi Beardsley, de 19 anos e estagiária da Casa Branca à época, ao lado dos guarda-costas presidenciais.
“Quem é esta estagiária que entra no avião antes dos restantes passageiros?”, interroga-se Timothy Naftali. Na opinião do historiador, estes registos parecem confirmar o que Mimi Beardsley já havia escrito na sua auto-biografia sobre o teor da sua relação com JFK.
Outras das zonas de sombra do mandato de Kennedy que a análise desta documentação ilumina é a relação tensa que JFK tinha com o vice-presidente Lyndon B. Johnson, apanhado num escândalo de corrupção semanas antes do assassinato do presidente dos EUA. Segundo notas tiradas pela secretária de Kennedy, o historiador conclui que este não queria que Johnson voltasse a fazer parte da sua equipa na re-candidatura que preparava à liderança dos EUA.
A análise à documentação agora desclassificada ainda não está concluída, mas promete dar a conhecer uma imagem mais completa da personalidade pessoal e política de JFK. Timothy Naftali prevê que o livro que está a preparar com base nestes documentos e registos chegue às bancas em 2017, ano em que se comemora o centésimo aniversário do nascimento de John Fitzgerald Kennedy.