Querer saber onde estão os filhos, por questões de segurança ou porque se querem evitar riscos. Certo. A tecnologia pode ser uma grande ajuda e há muitos pais que procuram ferramentas que, como as aplicações de telemóvel, lhes permitam saber sempre onde estão os filhos. Mas não será essa uma atitude exagerada?

“É igual a um chip que se mete nos cães. Tratam-me como um cão”, foi assim que Diego reagiu, há um ano, quando o pai decidiu instalar no seu telemóvel uma aplicação que lhe permite saber sempre onde está o seu filho, conta o El Mundo.

Embora para os pais esta seja uma questão relativamente fácil de explicar porque se prende com questões de segurança, para os filhos, trata-se de uma espécie de ataque à sua intimidade. O El Mundo conta que Diego tinha 14 anos quando o seu pai decidiu instalar no telemóvel a app que lhe permitia acompanhar todos os passos que dava em Madrid, através de um mapa.

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Diego instalou, obrigado, a app que está ligada por GPS aos telemóveis dos seus pais. Mas Diego é apenas um, no meio de milhões de famílias em Espanha que utilizam a aplicação DondeEsta Family, criada em 2009 por Pol Gerbeau, depois de, durante uma tarde inteira, ter ajudado a procurar o filho desaparecido de um vizinho.

“A primeira reação do miúdo foi a rejeição. Viu-a como uma intromissão na sua intimidade”, admitiu o pai de Diego, David. A aplicação DondeEsta Family permite entre várias coisas saber quando é que as crianças e adolescentes entram e saem da escola, através de alertas para o telemóvel dos pais. Permite inclusive fazer uma revisão de todos os passos dados durante vários dias, mediante um histórico incorporado na app.

O pai, David, garante que não vai espiá-lo, mas que quer uma ferramenta de apoio que permita dar segurança ao filho e que lhe garanta alguma tranquilidade. Mas David não é o único a querer essa tranquilidade. O El Mundo revela que cerca de 50 milhões de pais em toda a Europa também a procuram, através da instalação de aplicações deste tipo nos seus tablets e smartphones para saber onde estão e o que estão a fazer os filhos. A consultora Berg Insight revela que este ano já se atingiram os 60 milhões e acredita que em 2016 se vão ultrapassar os 70. As empresas que atuam neste setor já arrecadaram perto de 170 milhões de euros, cujo negócio se concentra 80% na Europa.
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São várias as aplicações disponíveis para o efeito, como o DondeEsta Family, o Life360, o RutaSegura, o Nearparent ou ainda o Family Locator. A maioria delas oferece um serviço gratuito limitado que deve ser instalado no telemóvel do filho e dos pais. Se não bastar o serviço gratuito, existe a possibilidade de aceder a um serviço pago,com valores mensais que podem variar entre os 5 e os 25 euros. Os benefícios do serviço pago para os pais? É que lhe permite aceder a uma localização em tempo real e como se não bastasse ainda oferece um alarme que é acionado sempre que os filhos saem dos limites considerados seguros.

E as crianças mais pequenas que não podem utilizar um telemóvel? Pois já se inventou a solução… uma pulseira infantil que está ligada aos dispositivos dos pais, uma espécie de SmartWatch, para crianças entre os quatro e os onze anos.

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Mas há pais para os quais a geolocalização é insuficiente e então, optam por aplicações que permitem ver as mensagens que os filhos enviam por plataformas com o whatsapp, com a de algumas serem invisíveis, impedindo que os adolescentes se apercebam da sua existência. Uma atitude que talvez se pareça… com uma atividade de espiões. “Estas ferramentas foram inventadas para localizar telemóveis roubados, que agora se utilizam para fiscalizar o que é que os filhos fazem, o que pode ser paranóico”, esclarece um professor de Tecnologia Educativa da Universidade Ramon Llull, Miguel Àngel Prats, em declarações ao El Mundo.

” Os pais que acreditam que educar é apenas controlar e assegurar-se de que não acontece nada às crianças, irão recorrer a este tipo de estratégias de controlo para que eles mesmo consigam uma sensação de segurança, que acaba por ser fictícia”, esclarece um especialista de tecnologia e educação na Universidade Aberta da Catalunha, Nati Cabrebra, relembrando que é necessário educar na base da confiança e do diálogo, evitando a utilização destas tecnologias.