Vários milhares de pessoas, a maioria curdos, manifestaram-se neste domingo em Paris para denunciar a “política de guerra” do governo da Turquia, um dia depois de um atentado em Ancara, que matou pelo menos 95 pessoas.

Num desfile que percorreu algumas artérias do centro da capital francesa, os manifestantes exibiram uma bandeira curda de grandes dimensões, estandartes dos diferentes movimentos políticos curdos e cartazes de cor preta onde se podiam ler frases como: “Os mártires da revolução nunca morrem” e “AKP [Partido da Justiça e Desenvolvimento, no poder na Turquia desde 2002] + Daesh [acrónimo árabe do grupo Estado Islâmico] = atentado em Ancara”, segundo testemunhou no local um jornalista da agência francesa AFP.

Os manifestantes também gritaram “Erdogan [Presidente turco] assassino” e “Solução política para o Curdistão”. Outras manifestações estavam previstas para hoje em França, nomeadamente nas cidades de Lyon e Toulouse. No sábado, várias centenas de pessoas já tinham organizado concentrações em Marselha, Estrasburgo e Rennes.

Na Turquia, milhares de pessoas saíram hoje para as ruas de Ancara para prestar homenagem às vítimas do atentado. Sob uma forte presença das forças policiais, a multidão recordou as vítimas do ataque, mas também entoou frases contra o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan (islâmico conservador) e o seu partido AKP.

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O atentado de sábado, considerado já o pior e mais mortífero da história da Turquia, ocorreu junto à principal estação de comboios de Ancara e fez pelo menos 95 mortos, segundo dados governamentais. Hoje, o copresidente do Partido Democrático do Povo (HDP), Selahattin Demirtas, afirmou que o número de pessoas mortas no atentado já era de 128.

O ataque visou militantes de partidos, sindicatos e organizações não-governamentais de esquerda, próximos da causa curda. As duas explosões ocorreram quando os ativistas estavam a participar numa marcha pacífica, com o objetivo de denunciar o início do conflito curdo.

Até ao momento, o ataque não foi reivindicado, mas o governo de Ancara já apontou o dedo a três potenciais autores: os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão — PKK (organização armada que luta desde 1984 pela criação de um Estado autónomo no sudeste da Turquia, zona maioritariamente curda), o grupo extremista sunita Estado Islâmico (EI) e o Partido/Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C), movimento de extrema-esquerda classificado pela Turquia e pela União Europeia como organização terrorista.

Mas, para muitos, o Presidente Erdogan e o partido AKP são os responsáveis pelo atual clima de tensão que se vive no país, devido à aproximação das eleições legislativas antecipadas turcas, previstas para 01 de novembro, e os confrontos travados entre as forças de segurança governamentais e o PKK no sudeste da Turquia.

No sábado, Erdogan condenou o ataque que classificou como “hediondo” e o governo de Ancara decidiu decretar três dias de luto nacional.