Quanto mais António Costa avança com os contactos à esquerda para formar um governo PS+PCP+BE, mais se agita o PS. Francisco Assis, que na semana passada adiou no calendário a data para se avaliar a liderança dos socialistas (depois das presidenciais), dá sinais de intranquilidade com a estratégia seguida. Esta quarta-feira, o eurodeputado socialista reentra em cena: de manhã é o orador principal da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, na cerimónia de aniversário que reúne muitas personalidades da cidade; à noite é a vez de ir à RTP, para uma entrevista com Vítor Gonçalves. Uma nota de curiosidade: este é o mesmo jornalista que António Costa acusou em direto, durante a campanha, de estar a servir de “porta-voz do dr. Passos Coelho”.

Nos bastidores do PS, todos medem o pulso ao partido. António Costa e alguns membros da sua direção têm-se multiplicado em contactos com as federações e autarcas, procurando saber do apoio que pode ter a estratégia de juntar a esquerda para impedir a direita de tomar posse. Do lado dos críticos, os telefonemas também são muitos, procurando – claro – quem discorda do líder.

Há uma semana, quando todos olharam para ele à procura de um candidato, Assis preferiu falar de longe para o partido. De Estraburgo, onde estava em sessão parlamentar, deixou vários recados claros à liderança: os resultados foram maus; era preciso evitar a “tribalização” do PS; as presidenciais têm de ser ganhas. E mais dois: o caminho do partido deve ser de “diálogo útil entre o Governo e a principal força da oposição”; e a liderança é matéria que só deve ser vista depois das presidenciais. Mesmo assim, Assis ficou vigilante. Na quinta-feira foi duríssimo com as hipóteses de um governo à esquerda. Nos últimos dias esteve muitas horas ao telefone a perceber como o partido está a olhar para o cenário que se avizinha.

Pelo meio ficaram alguns sinais de intranquilidade. Sérgio Sousa Pinto demitiu-se da direção de Costa, discordando do caminho do líder; uma cabeça de lista escolhida por Costa manifestou publicamente a sua oposição à união das esquerdas; e até o líder da UGT veio dizer-se contra essa hipótese – curiosamente levando a mesma UGT a enviar, 24 horas depois, um comunicado às redações dizendo que a declaração do seu líder “apenas vincula a pessoa do Secretário-geral da UGT”, não sendo uma “posição da Central ratificada nos seus órgãos sociais”.

António Costa disse esta segunda-feira, em Belém, que espera ter as negociações concluídas (com a direita e com a esquerda) “até ao final da semana” para levar a sua decisão à comissão política do PS. Durante a manhã, o líder admitiu como “possível” a sugestão de Vítor Ramalho de levar a decisão final a referendo no partido – como Mário Soares fez em 1983, quando fez um bloco central com o PSD.

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