A organização não-governamental Conselho Português para a Paz e Cooperação, dirigida pela ex-eurodeputada comunista Ilda Figueiredo, está a organizar um conjunto de iniciativas contra o exercício militar da NATO que decorre em Portugal desde o último dia 3 de outubro e até ao próximo dia 6 de novembro. Entre palestras, colóquios e um desfile nas ruas de Lisboa, o objetivo é defender uma “solução pacífica para os conflitos internacionais e pôr fim à participação militar portuguesa em operações de ingerência e agressão a outros povos”, como justificou em agosto um membro do comité central do PCP.

O mote do movimento é “Paz sim, NATO não” e conta já com a subscrição de 29 organizações portuguesas, do Conselho Português para a Paz e Cooperação à Juventude Comunista Portuguesa, passando pelas várias unidades sindicais da CGTP, que se juntaram para se manifestar contra a realização daquele que é o maior exercício militar da NATO desde 2002, e onde Portugal é, a par de Espanha e Itália, um dos países anfitriões.

Trata-se do exercício ‘Trident Juncture 2015’, que teve início a 3 de outubro e que se vai estender até ao dia 6 de novembro, em Portugal, Espanha e Itália, juntando cerca de seis mil efetivos portugueses, entre mais de 30 mil militares de 30 países, na totalidade. O objetivo é “demonstrar a capacidade da organização para entrar em ação quando e onde for necessário”, como disse na semana passada em Bruxelas o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. Portugal vai contar com cerca de 6 mil efetivos nacionais no terreno.

Durante este mês de outubro, mês em que decorrem os exercícios, vão decorrer por isso várias iniciativas paralelas contra a NATO. Esta segunda-feira tem lugar uma sessão pública no Porto, para a semana haverá um colóquio na Casa do Alentejo em Lisboa, e no dia 20, em Setúbal será realizada uma tribuna pública. Nesses mesmos dias, 19 e 20 de outubro decorrerá também o Fórum da Indústria NATO 2015. O auge será no sábado dia 24 de outubro, no centro de Lisboa, onde serão organizados “jogos pela paz” e um desfile desde a Rua do Carmo até à Praça Luís de Camões.

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PCP contra “operações agressivas do imperialismo” 

Segundo se lê na página oficial de Facebook do Conselho para a Paz, na origem da criação das iniciativas anti-NATO está a necessidade “urgente” de “dissolver a NATO”, assim como acabar com “as armas nucleares e de extermínio em massa, o fim das bases militares estrangeiras e o desarmamento geral e controlado” e “reclamar das autoridades portuguesas o cumprimento das determinações da Constituição”, lembrando que o documento fundamental defende a “dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança coletiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos”.

As manifestações, já convocadas desde agosto, surgem numa altura de pós-eleições em que o Presidente da República deixou apelos para que o futuro Governo garanta o cumprimento dos compromissos internacionais de Portugal, nomeadamente no âmbito da NATO e dos tratados europeus, num recado que foi visto como um sinal de exclusão de partidos como PCP e o BE de uma solução governativa.

Em agosto deste ano, durante uma conferência de imprensa para assinalar os 70 anos sobre os lançamentos das bombas atómicas norte-americanas no Japão, o membro do comité central comunista Pedro Guerreiro deu a cara pelo PCP para explicar porque é que o partido estava contra o mega-exercício da NATO em Portugal. “O PCP expressa a sua preocupação e alerta para os perigos da ofensiva militarista dos Estados Unidos e da NATO na Europa, onde se integram os exercícios em Portugal, Espanha e Itália, anunciados como os maiores realizados por esta organização belicista”, disse na altura, defendendo a “rutura com a política de submissão que está a envolver Portugal nas operações agressivas do imperialismo e a comprometer a soberania e independência nacionais”.

O exercício militar em Portugal vai decorrer nas zonas de Beja, Santa Margarida, Tróia e Setúbal e contará, em território nacional, com mais de 10 mil efetivos de 14 países. A ideia é concentrar os exercícios aéreos em Itália, os terrestres em Espanha e os marítimas em Portugal.