O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, avisa que os países que fugirem às reformas estruturais e optarem pelo endividamento público para tentar superar a crise irão ficar mais expostos a um eventual “choque” no futuro. É que, agora, os bancos centrais já não têm a mesma capacidade para suportar o crescimento através de medidas de política monetária.

Gurría nota que “os países que disserem ‘vou gastar para me safar deste novo abrandamento’ eu respondo-lhes: ‘não vão, não, porque já fizeram isso e agora não sobra margem'”. A declaração do líder da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) surgiu à margem do encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Lima, este fim de semana. Por novo abrandamento, Gurría referia-se aos alertas do organismo liderado por Christine Lagarde de que o crescimento global poderá ser inferior ao anteriormente previsto.

A maioria dos países está a “tentar reduzir o défice e a dívida porque isso é um sinal de vulnerabilidade e porque estão a ser pressionados pelas agências de rating”, apontou o mexicano, referindo-se a casos como o Brasil e França. “Não temos margem para resolver o nosso problema através da inflação, portanto a solução é sempre a mesma: estrutural, estrutural, estrutural”, afirma Gurria, citado pelo The Telegraph.

O secretário-geral da OCDE mostrou-se um bocado frustrado com o ritmo a que os vários países estão a tornar as respetivas economias mais robustas através de reformas estruturais que promovam, por exemplo, a flexibilidade no mercado de trabalho. Gurría lembrou que a Alemanha “modificou as suas leis laborais há 12 anos e está a colher os frutos disso de forma brilhante, tendo tido um desempenho muito melhor do que outros países durante a crise”. Já Espanha começou as reformas há três anos e também já estão a colher alguns frutos, diz Gurría, e Itália “começou agora”, pelo que dentro de alguns anos sentirá os efeitos.

Sem estas reformas estruturais, Gurría avisa que a política monetária de juros ultra-baixos não pode durar para sempre porque, a certa altura, o efeito esgota-se e entra-se num cenário de retornos diminutos para os investimentos. Este é, apontam vários economistas, um dos principais riscos da política monetária que os principais bancos centrais têm seguido: penaliza-se a poupança sem que haja evidências de conseguir criar uma dose saudável de inflação e, por outro lado, empurra-se muitos capitais para ativos mais arriscados, correndo o risco de gerar bolhas.

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