Os Democratas tinham a vida facilitada para conseguir qualidade neste debate: apenas cinco candidatos, um duelo anunciado entre Hillary e Sanders, um moderador de nível internacional e… a ausência de Donald Trump.

E a verdade é que conseguiram. Falou-se mais de política, discutiu-se com substância e foi possível perceber melhor as diferenças entre as vozes que querem suceder a Obama no caminho para a Casa Branca. A CNN e o Facebook entregaram a moderação a Anderson Cooper, que se mostrou à altura do desafio: de pé, com grande ritmo, foi despachando as perguntas e equilibrando os tempos entre os candidatos sem necessidade de os interromper. Os temas foram quase todos bem lançados e ainda entraram algumas questões deixadas no Facebook por eleitores, para ajudar ao ritmo.

Todos esperavam que Bernie Sanders, o autoproclamado “socialista”, estivesse pronto para atacar Hillary. Mas o que se viu foi um Sanders sincero que assumiu a defesa da candidata no momento mais alto da noite. Quando se discutia o problema dos emails que Hillary escondeu do Departamento de Estado, Sanders cortou a direito: “isto provavelmente não é boa política, mas já chega dos estúpidos emails. Vamos discutir o que interessa”.

Antes já tinham ouvido o candidato Sanders dizer que não fazia parte “do processo de capitalismo de casino”. E logo a seguir ouviram-no repetir que a maior ameaça que os Estados Unidos enfrentam não é o Médio Oriente nem a China, mas sim o aquecimento global. Hillary, obrigada pelas sondagens a mostrar que é humana, foi dura na defesa dos direitos das mulheres e no ataque ao lobby das armas; mas foi vaga na questão Snowden/NSA e ainda mais equívoca na resposta à pergunta sobre a legalização da marijuana.

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Os outros candidatos lutaram com o que tinham: O’Malley fez a defesa dos valores democratas e Jim Webb congratulou-se por ter morto o inimigo que na Guerra do Vietname lhe apontou uma arma. Já Chaffey terá enterrado as suas esperanças políticas quando admitiu que em dois casos (apoio ao sistema bancário e guerra no Iraque) votou seguindo a maioria, porque tinha acabado de chegar ao Congresso e não conhecia os dossiers.

Um candidato a candidato que é adorado pela elite académica mas que é desconhecido da maioria da população – Lawrence Lessig – ficou de fora do debate. E deve estar prestes a desistir, porque Bernie Sanders pegou nas suas bandeiras e defendeu-as com mais força que Lessig alguma vez terá. Sanders afirmou que era o único em palco que não era “um milionário”, que queria acabar com a corupção do poder político por Wall Street e devolver o poder ao povo para combater a desigualdade, que é a maior bandeira que quer hastear até às eleições. Será o suficiente para bater a todo-poderosa Hillary?

O resultado provável deste debate será que os dois principais candidatos subirão nas sondagens. Hillary porque mostrou que sabe descer à terra, Sanders porque conquistou credibilidade e deu-se a conhecer. O próximo debate será a 14 de novembro, nos ecrãs da CBS. Cá estaremos para o acompanhar também.