Russia, China, Índia ou Coreia do Norte. Todos estes países evitam softwares norte-americanos, com receio de que estes escondam mecanismos de espionagem secretos. Por isso decidiram criar os seus próprios sistemas operativos. Na Coreia do Norte funciona, desde 2002, o Red Star OS, baseado no sistema Linux, que o governo decidiu implementar e que funciona como um sistema para vigiar os cidadãos, conta o El Confidencial.

Habitualmente os governos decidem criar os seus próprios sistemas operativos para os usar em áreas sensíveis, como no exército, por exemplo. Mas a Coreia do Norte obriga toda a sua população a usar o sistema Red Star OS. O El Confidencial conta que em 2013 um estudante decidiu tirar screen-shots (fotos) do sistema operativo, que revelavam esta situação e que começaram a circular rapidamente na Internet.

Vários especialistas começaram a analisar o software, nos últimos meses. Um analista e CEO da empresa de segurança cibernética Vulnex, Simón Roses, falou com o El Confidencial e mostrou-se surpreendido com o grau de monitorização e de capacidade do sistema Red Star.

Analisando o navegador, podemos concluir que toda a Coreia do Norte é uma grande rede local e que tem um filtro para a Internet. Além disso, o navegador, que é uma versão modificada do Firefox, envia informação sobre as páginas que os utilizadores visitam para um servidor controlado pelo governo norte-coreano”, explicou Simón Roses.

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Os utilizadores têm à sua disposição, no sistema operativo Red Star, programas de áudio, de vídeo, de serviços de email ou ainda processadores de texto, que sofrem modificações relativamente aos programas conhecidos. O sistema inclui ainda um software intitulado “Contents Guard”, que segundo Simón Roses “grava de forma oculta todo o tipo de documentos e gráficos de modo que seja possível verificar a origem de todos os ficheiros”.

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O CEO da empresa se segurança cibernética diz não ter dúvidas relativamente aos objetivos deste sistema operativo.

“O Red Star é um sistema operativo utilizado para controlar a população, vigiar os cidadãos, limitando a liberdade de navegação e registando todos os seus documentos”, acrescenta Simón Roses.

O técnico esclarece ainda que o sistema operativo contém um anti-vírus próprio para gerir e detectar intrusos. A utilização do software generalizou-se e o El Confidencial compara-o ao sistema operativo Nova, criado em 2009 pelo governo cubano, que também tinha o objetivo de ser utilizado por toda a população e que apresentava as características do Red Star.

Mas Simón Roses revela mais pormenores sobre este tipo de programas desenvolvidos pelos governos.

“Outros países como a Índia, Rússia ou Estados Unidos também anunciaram os seus próprios programas, mas que não estão publicados. Conseguir este tipo de software é realmente complicado”, esclarece.

O CEO explica que este tipo de programas podem ter uma grande importância estratégica e que estão a salvo enquanto os seus códigos permanecerem desconhecidos. “Consegui-los é realmente difícil, mas a partir do momento que tenhamos acesso a eles, são fáceis de analisar”, explica Simón Roses, que acrescenta que assim que conseguiu aceder ao sistema Red Star descobriu algumas vulnerabilidades.

Este cenário, que mostra os governos a vigiar os seus cidadãos traz, para o especialista, novos problemas realmente preocupantes. Simón Roses considera que este tipo de programas poderá dar origem a uma espécie de infoguerra ou guerra digital através do qual todos os países podem criar falsos sistemas operativos e levar os seus adversários a gastar grandes quantias para consegui-los e analisá-los e que podem ainda ser surpreendidos por softwares que vão infetar as suas redes.