“É um misto de temores e coragens”, comentou na sessão de apresentação do livro “Astronomia”, que decorreu no Festival Literário Escritaria, dedicado este ano àquele autor. Falando perante algumas dezenas de pessoas que enchiam uma das salas do Museu de Penafiel, acrescentou: “Não sei explicar de onde é que este livro saiu dentro de mim”.

Sempre bem-humorado, o ficcionista explicou que aquela obra funciona como “um texto tripartido”, com uma primeira parte dedicada à infância, a segunda e mais extensa à maturidade, e a terceira à velhice.

Coube ao professor e escritor Gabriel Magalhães a apresentação do livro, que considerou ser “a cúpula de uma grande obra” de Mário Cláudio e de “um percurso que chegou ao seu apogeu”. Para o orador, a obra “Astronomia” constitui uma “tentativa de chegar ao âmago do ser humano” e “um romance que na realidade é uma biografia”.

“Há uma tensão entre a confissão e o anonimato”, destacou ainda, assinalando tratar-se de “um livro que deseja ser autêntico e delicado na forma de levar a cabo essa autenticidade”, considerou. E observou: “É um livro escrito em código em que o leitor tem oportunidade de descodificar quem é quem”.

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Gabriel Magalhães chamou à atenção da assistência para o facto de “Astronomia” ser a história de uma vida com o “paradoxo” de a fase da infância ter como protagonista um velho e de a terceira idade ter como protagonista uma criança. “É o triunfo da humanidade em plena velhice” e “a glória de viver apesar de toda a amargura”, frisou ainda.

Antes, tinha falado Maria Rosário Pedreira, editora de Mário Cláudio, para a qual aquele escritor do Porto é “uma das estrelas mais brilhantes da literatura portuguesa”.

A oitava edição do Festival Literário Escritaria está a homenagear Mário Cláudio até domingo. Na sexta-feira à tarde foi descerrada uma frase do autor numa das praças da cidade. Bem próximo dali, foi apresentada, no “Mural do Escritaria”, a silhueta do autor, junto das peças que representam os escritores homenageados nas anteriores edições.

No programa de hoje, destaca-se, às 15h00, uma conferência sobre o escritor, com vários convidados. Como tem ocorrido em todas as edições daquele festival literário, a cidade de Penafiel enche-se de momentos musicais, teatrais e peças de arte pública dedicadas ao escritor homenageado. Este ano, os trabalhos foram realizados com a participação de cerca de 300 alunos e vários de professores das escolas do concelho.