É esse o balanço que Salomé Tavares faz hoje à Lusa enquanto diretora daquele que é o único parque ornitológico do país, envolvendo uma área total de dois hectares e uma coleção de aproximadamente 500 aves de 150 espécies distintas, das quais cerca de 20 em risco de extinção.

“Evoluímos muito no sentido da profissionalização e tanto somos reconhecidos internacionalmente pelas nossas boas práticas científicas que, em 2013, fomos convidados a partilhar o nosso exemplo no plenário mundial da entidade que atribui a norma ISO/TC 176, de Gestão de Qualidade em Zoos”, afirma a diretora do parque de Lourosa.

“Somos valorizados pelas outras instituições do ramo, sejam nacionais ou estrangeiras, e isso é ainda mais relevante por termos uma equipa de génese caseira, que, sendo pequena e dispondo de poucos recursos, vem fazendo um trabalho notório, ao mesmo nível do de outras entidades com muito mais meios à disposição”, acrescenta.

Uma das áreas em que os nove técnicos do Zoo de Lourosa se vêm afirmando é a da reprodução de espécies em cativeiro e o primeiro grande mérito a esse nível verificou-se em 2009, quando o parque acolheu o nascimento do primeiro Calau de Casco Cinzento gerado em todo o mundo nessas condições. A situação voltou, aliás, a repetir-se em 2012, mantendo-se ainda sem paralelo no registo das autoridades oficiais internacionais.

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Mais recentemente, em setembro de 2015, diferentes zoológicos da Europa entregaram à guarda do parque de Lourosa 42 novas aves, para reforço da sua coleção global e reprodução de espécimes já existentes. Entre esses novos hóspedes incluía-se uma fêmea de Maina, originária do Bali, uma das aves mais ameaçadas de extinção na atualidade e que passou assim a fazer companhia ao macho da mesma espécie já disponível no zoo português, na expetativa da procriação.

O Parque Ornitológico de Lourosa abriu ao público em outubro de 1990, por iniciativa privada de Manuel Leal, então proprietário de várias espécies de aves e outras classes de animais.

Dez anos depois o espaço passou a ser propriedade da Câmara Municipal da Feira, que assim assumiu a responsabilidade de o adequar ao cumprimento das normas comunitárias de exposição de animais ao público. Ainda em 2000, a autarquia constituiu a empresa municipal Feira Viva, à qual compete desde março de 2001 a gestão do recinto, então rebatizado como Zoo de Lourosa – Parque Ornitológico de Santa Maria da Feira, por exibir apenas pássaros.

Atualmente com cerca de 50 ‘habitats’ distintos, esse equipamento tenta em cada um deles reproduzir “o mais fielmente possível” as condições do meio selvagem característico das aves aí instaladas, para que elas possam manifestar os mesmos padrões de comportamento adotados no seu ambiente natural.

Para observação dessas espécies, o zoo recebeu em 2014 cerca de 20.000 visitantes, entre os quais Salomé Tavares diz ter-se evidenciado “um acréscimo do público familiar em detrimento do escolar”.

Conservação, Educação e Investigação são as “premissas fundamentais” do trabalho desenvolvido para esse público e também para a comunidade científica, com vista à gestão das populações de aves em cativeiro, à consciencialização e compreensão dessas espécies enquanto seres vivos integrados em ecossistemas sensíveis e à expansão do conhecimento internacional em domínios como o comportamento animal, o enriquecimento ambiental e a saúde e nutrição ornitológicas.