São 236 filmes, 46 deles portugueses, que o DocLisboa vai mostrar entre quinta-feira, dia 22, e 1 de Novembro, em vários espaços da capital, da Culturgest à Cinemateca, passando pelo São Jorge, entre outros. Filmes que a direcção do festival classifica como “arriscados e provocadores”, e que se apresentam como “cinema e não apenas documentário”. Neles encontramos o real em todas as suas declinações cinematográficas, da descrição documental directa e imediata à experimentação formal, da combinação de romanesco e realidade ao ensaio, da reflexão e intervenção política à fixação no “eu”.

A programação desta edição está centrada na Europa, apresentando, por exemplo, uma secção dedicada à Grécia, ‘Foco na Grécia’, com 12 filmes feitos nos últimos 50 anos, entre documentários e ficção, e não apenas de realizadores locais; uma sessão especial, ‘Growing Home’, composta por curtíssimos filmes sobre os refugiados que afluem à Europa; a retrospectiva ‘“I don’t throw bombs, I make films”- Terrorismo, Representação’, que explora a relação entre terrorismo e cinema, com filmes documentais e ficções dos anos 60 aos nossos dias; ou ainda outra, dedicada ao cineasta sérvio Zelmir Zilnik, que filmou na Jugoslávia ditatorial de Tito e foi um dos primeiros a documentar a fragmentação e o dilaceramento do país após a queda do comunismo. Para ajudar à navegação neste mar de imagens do Doc 2015, eis uma escolha de 12 filmes.

https://youtu.be/xk1RaTEYDFg

“Bella e Perduta” (Pietro Marcello)

O filme de abertura do festival,assinado pelo documentarista italiano Pietro Marcello, foi considerado um dos melhores do último Festival de Locarno, “Bella e Perduta” combina realismo e efabulação, passando-se na Campânia, uma região bastante marcada pela crise económica. O projecto começou por ser sobre um camponês local que tentava salvar um palácio da ruína, mas a morte inesperada deste obrigou Pietro Marcello à dar a volta ao filme e a transformá-lo numa fábula poética, que não perde de vista a realidade quotidiana.
(Dia 22, Culturgest, 2130)

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“Portugal-Um Dia de Cada Vez” (João Canijo, Anabela Moreira)

Os dois realizadores viajaram durante um ano pelo extremo Norte de Portugal, visitando uma série de aldeias de Trás-os-Montes e Alto Douro, falando com quem lá vive, mostrando, muito para lá dos lugares-comuns dos guias turísticos, o dia-a-dia de uma população cada vez mais envelhecida e solitária. Esta versão de 155 minutos de “Portugal-Um Dia de Cada Vez” que o Doc vai exibir corresponde a uma parte de uma série de televisão que terá 12 episódios de quase uma hora cada um.
(Dia 24, São Jorge, 18h15/Dia 26, City Campo Pequeno , 15h00)

“My Talk With Florence” (Paul Poet)

Um filme-entrevista que dá a palavra a Florence Burnier-Bauer, nascida numa família burguesa em Paris, em 1949, que foi vítima de abusos sexuais em casa e depois internada e submetida a tratamentos com electrochoques. Seguiu-se uma existência boémia e marginal que a levou ao crime, e o refúgio numa comunidade contracultural na Áustria, onde Florence continuou a ser brutalizada e abusada, e cujo mentor, o activista Otto Mühl, acabou levado a tribunal e condenado a uma pena de prisão.
(Dia 26, São Jorge, 21h30/Dia 28, City Campo Pequeno 1, 18h30)

“In Jackson Heights” (Frederick Wiseman)

Depois de ter instalado a sua câmara na National Gallery londrina, para o documentário com o mesmo título, já exibido em Portugal, Frederick Wiseman regressou aos EUA, instalando-se em Nova Iorque para filmar o bairro de Jackson Heights, em Queens, habitado por gente vinda das mais variadas partes do mundo, do México ao Afeganistão, da China  à Índia, e onde se falam 167 línguas diferentes. Em causa a integração, a assimilação e a aculturação de todas estas comunidades, e a sua adaptação, ou não, ao estilo de vida e aos valores americanos.
(Dia 29, São Jorge, 18h30/Dia 31, São Jorge, 15h00)

“In Transit” (Albert Maysles, Lynn True, Nelson Walker, Ben Wu, David Usui)

O recentemente falecido Albert Maysles, que com o seu irmão David foi um dos expoentes do chamado “direct cinema”, é um dos autores deste documentário colectivo passado a bordo do Empire Builder, o comboio de longa distância mais movimentado dos EUA, que liga Chicago a Seattle. Maysles e os seus co-realizadores seguem e ouvem os passageiros e os funcionários da linha, que falam sobre as suas vidas, aspirações, problemas, maleitas e alegrias –  e também sobre viajar de comboio.
(Dia 27, Culturgest, 16h30/Dia 30, Culturgest, 18h45)

https://youtu.be/v-YG0x1QOUw

“Sobytie” (Sergei Loznitsa)

Depois de “A Praça”, o realizador ucraniano Sergei Loznitsa recua no tempo, até Agosto de 1991, quando os comunistas da linha dura do Kremlin tentaram dar um golpe de estado em Moscovo, frustrado pela oposição liderada por Boris Ieltsin, e que acabou definitivamente com 70 anos de regime soviético. Loznitsa revisita esses momentos dramáticos transmitidos em directo pelas televisões de todo o mundo, recorrendo a imagens e a testemunhos da época para tentar perceber o que aconteceu na realidade e separar os factos da mitologia e da propaganda.
(Dia 22, São Jorge, 22h00/Dia 24, São Jorge, 17h00)

“Celeste” (Diogo Varela Silva)

Aos 92 anos, Celeste Rodrigues, irmã de Amália, é uma das maiores e mais castiças vozes do fado, com muitos álbuns editados. Cinco anos depois de “Fado Celeste”, realizado pelos 65 anos da sua carreira, Diogo Varela Silva, o seu neto, revisita esse documentário em “Celeste” (que abre a secção Heartbeat do festival), para, segundo o próprio, tentar “libertá-lo de algum formalismo que tinha e assumindo esta ligação familiar e a cumplicidade que nos une”. E aproveita também para assinalar os 70 anos de carreira da avó.
(Dia 23, São Jorge, 19h00/Cinema Ideal, dia 29, 18h00)

https://youtu.be/lYxLGyiRZdk

“Daft Punk Unchained” (Hervé-Martin Delpierre)

A carreira deThomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, vulgo Daft Punk, é descrita minuciosamente neste documentário, desde os seus começos numa banda chamada Darlin’, até aos Grammy de 2014, onde foram premiados pelo álbum “Random Access Memories”. O filme inclui imagens raras de arquivo e entrevistas a nomes como Michel Gondry, Giorgio Moroder, Nile Rodgers, Pharrell Williams ou o “designer” e técnico de efeitos especiais Tony Gardner, que tem trabalhado com o duo em muitos aspectos, caso da concepção dos capacetes que usam.
(Dia 23, São Jorge, 22h30)

“Listen to Me Marlon” (Stevan Riley)

Ou Marlon Brando nas suas próprias palavras. O realizador e autor britânico Stevan Riley teve acesso pleno ao espólio de Marlon Brando e construiu este documentário a partir de horas e horas de gravações áudio feitas pelo actor, em casa, durante reuniões profissionais, entrevistas com a comunicação social ou consultas médicas. A voz de Brando é que cria a narrativa, permitindo-nos aceder á sua intimidade e partilhar estados de espírito, opiniões, histórias e pontos de vista, que fazem luz sobre a sua personalidade e modo de ser.
(Dia 24, São Jorge, 16h15/Dia 25, Cinema Ideal, 22h15)

“Cinéma documentaire, fragments d’une histoire” (Jean-Louis Comolli)

O crítico, historiador de cinema e realizador francês Jean-Louis Comolli, que se tem dedicado a reflectir sobre o documentário, propõe-se fazer aqui, em menos de uma hora, uma história muito subjectiva deste género, desde os pioneiros irmãos Lumière, no final do século XIX, até aos anos 70 do século XX. E para isso, recorre a citações fílmicas de realizadores tão diversos como Robert Flaherty, Jean Rouch, Luis Buñuel, Dziga Vertov, Joris Ivens, Maurice Pialat ou Shohei Imamura.
(Dia 25, Culturgest, 22h00/Dia 27, City Campo Pequeno 1, 22h30)

https://youtu.be/GZ-4Wqs4pEo

“Colpire al Cuore” (Gianni Amelio)

Realizado em 1982, este filme do italiano Gianni Amelio (“O Ladrão de Crianças”), interpretado por Jean-Louis Trintignant e Laura Morante, foi buscar o título a uma expressão muito utilizada pela extrema-esquerda italiana nos agitados anos 70 e 80 – “ferir o Estado capitalista no coração”. Um filho denuncia o pai, um importante industrial, à polícia, por pensar que ele pode estar envolvido com as Brigadas Vermelhas. Mas será que o pai colaborava com esta organização terrorista, ou, pelo contrário, era uma vítima dela?
(Dia 23, São Jorge, 18h45/Dia 1 de Novembro, São Jorge, 16h30)

“Die Innere Sicherheit” (Christian Petzold)

Tal como “Colpire al Cuore”, “Die Inner Sichereit” (2000) passa-se no seio de uma família assombrada pelo terrorismo. É a primeira longa-metragem do alemão Petzold (“Bárbara”, “Phoenix”), co-escrita com o falecido Harun Farocki. Clara e Hans foram terroristas de extrema-esquerda na Alemanha e vivem no Algarve há muitos anos, porque ainda são procurados pela polícia. Mas a sua filha adolescente é uma rebelde, começa a ser uma ameaça à segurança dos pais e o casal tem que enfrentar o passado.
(Dia 24, Culturgest, 16h30/Dia 28, Culturgest, 16h30) 

Toda a informação sobre o festival aqui.