No dia 26 de outubro, a Casa da Música, no Porto, apresenta em estreia absoluta o concerto “a.bel – Nova Música Interactiva”. Não se esqueça do telemóvel. E sim, vai poder passar parte do espetáculo a olhar para o ecrã sem ser criticado por isso.

Já olhámos para a tecnologia como meio fundamental de aproximação entre os seres humanos. Com o aumento de smartphones com ligação à Internet (às redes sociais, ao e-mail…) e a generalização dos pacotes de chamadas e mensagens gratuitas, passamos a encarar também a tecnologia como destruidora da experiência em grupo.

Na segunda-feira, 26, às 21h30, as mais de mil pessoas que vão encher a Sala Suggia mostrarão que os smartphones não são necessariamente objetos “disruptivos de experiências sociais coletivas, mas um meio de interação com capacidades multimédia”, explica em comunicado o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), promotor da ideia. E como é que isso vai ser feito? Juntando os sons dos telemóveis aos instrumentos dos músico em palco:

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Não é obrigatório ter um smartphone para assistir ao concerto mas, para participar, sim. Quem quiser atuar só tem de descarregar gratuitamente para o smartphone a aplicação “a.bel” para Android e iOS (ainda não disponível na App Store, por estar em processo de revisão).

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No dia do concerto, convém levar a bateria totalmente carregada. À entrada da Sala Suggia, o telemóvel deve ser colocado em modo voo e conectado à rede wi-fi indicada pelo INESC TEC e pela Casa da Música. Depois é necessário selecionar a opção “go!” para que o smartphone se ligue à rede. Sente-se no lugar indicado no bilhete, descarregue os conteúdos específicos para o seu lugar através da leitura do “QR Code” respetivo e prepare-se para fazer parte do espetáculo.

O que esperar do resultado final? Ninguém sabe. Nem Rui Penha, compositor, investigador do INESC TEC, docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e um dos organizadores do concerto. “Para já ainda estamos nos ensaios com os músicos em palco. Terça-feira vamos fazer uma espécie de ensaio na FEUP, com 200 pessoas, só para validar uma série de questões de rede. O que temos usado nos ensaios é uma simulação, mas só vamos conhecer o resultado no dia do concerto“, conta ao Observador por telefone, antes de entrar para mais um ensaio.

Para além de pedir ao público que mantenha o telemóvel ligado no espetáculo, algo cada vez mais impensável, o instituto quer “que o telemóvel não seja aqui um elemento que interfira com a atenção do seu utilizador, mas antes que una todos os intervenientes numa experiência de partilha coletiva”, explica Rui Penha. É o compositor que define o grau de liberdade que cada pessoa terá em cada música. Para que a sinfonia faça sentido, os smartphones vão mudando de nota ou de instrumento ao longo do espetáculo. Mas “se o compositor quiser um caos, pode fazê-lo”, explica Rui Penha, sem revelar se isso vai acontecer em algum momento.

As obras do concerto, todas em estreia, pertencem a Carlos Guedes (INESC TEC e New York University em Abu Dhabi), José Alberto Gomes (Casa da Música), Neil Leonard (Berklee College of Music, de Boston) e Rui Penha (INESC TEC e FEUP). Vão ser todas interpretadas por André Dias, na percussão, Gilberto Bernardes, no saxofone, e o Digitópia Collective, a plataforma artística da Casa da Música reservada à criação musical em suporte tecnológico. E, claro, por todos os espectadores. Os bilhetes custam 10 euros.

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