Marta nasceu no Porto, em 1980, António em Lisboa, um ano depois. Ela é psicóloga e professora universitária, ele gestor, professor e músico. Conheceram-se em dezembro de 2010, depois de Marta, então a tirar um doutoramento na Suíça, ter pedido a uma amiga suíça que lhe arranjasse um marido. Ficaram noivos menos de um ano depois e casaram em julho de 2011.

Quase quatro anos depois de terem dito “sim”, Marta e António de Brito decidiram começar um novo projeto juntos: um site de encontros exclusivamente para católicos. Depois de vários meses de planeamento, a plataforma, o datescatolicos.org, vai ser finalmente lançada — no dia 22 de outubro, ao meio-dia em ponto. Os mais de mil “pré-inscritos” parecem não ter dúvidas: há uma nova esperança para os católicos solteiros em Portugal.

A ideia não é nova. “Pertencemos a um grupo com sede na Alemanha”, explicou ao Observador António de Brito. Foi aí, há exatamente dez anos, que o conceito nasceu. Desde então, já se estendeu a outros oito países europeus: Áustria, Croácia, Hungria, República Checa, Letónia, Lituânia e Suíça. Por cá, a plataforma não será muito diferente das que já existem, uma vez que seguirá o modelo alemão.

O funcionamento é muito semelhante ao de qualquer site de encontros. No ato da inscrição, os utilizadores são convidados a preencher um perfil com várias informações pessoais (idade, profissão, formação académica e passatempos favoritos), uma fotografia bonita e a descrição do tipo de date que procuram.

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O perfil inclui ainda questões mais pessoais (que podem ser ou não respondidas), como “o que é que costuma fazer no sábado à tarde?”, “qual é a sua relação com a sua família e amigos?” ou “gosta de grandes festas ou prefere comemorar o aniversário apenas com os amigos mais chegados?”. Os utilizadores poderão inclusive enumerar os santos, papas e orações favoritas, e explicar a sua relação com a fé e com a Igreja.

“Todas estas perguntas são facultativas, mas ajudam a traçar o perfil e tornam mais fácil a sugestão de uma combinação“, salientou António.

Essa combinação é feita automaticamente pelo sistema, que procura por perfis com interesses semelhantes e sugere correspondências. “Dá para enviar mensagens, para pôr likes e o sistema avisa se houver um duplo like“, isto é, “se eu puser gosto numa pessoa, e essa pessoa também puser gosto em mim”.

“Há alguma oferta de sites de encontros para católicos, mas em Portugal somos os primeiros”, admitiu orgulhoso António. “Tivemos a ideia porque detetámos que havia esta necessidade no nosso país.” Estima-se que cerca de 80% dos portugueses sejam católicos, e foi a pensar neles que Marta e António decidiram criar um site de dates.

O principal objetivo da plataforma é ajudar os católicos solteiros, que pretendem uma relação consistente e para toda a vida, a encontrarem a sua cara metade. A outra metade da laranja. Até porque, quem vive “em conformidade com as leis da Igreja”, não traz a palavra católico “escrita na testa”.

Para que não haja dúvidas, no momento da inscrição, o novo utilizador tem de selecionar uma opção em que declara, de livre e espontânea vontade, que é “católico, solteiro” e que tem “o desejo” de se “casar na Igreja”. Caso contrário, não poderá criar um perfil. Isto porque, apesar de quererem promover o encontro entre solteiros fora do site com a organização de várias iniciativas (caminhadas, concertos e orações em conjunto), de um congresso anual e até de um retiro, Marta e António admitem que o “foco é mesmo o casamento”.

“Somos um país de tradição católica. Há diferenças entre as pessoas, claro. Uns são mais praticantes do que outros. Mas as pessoas ainda não esqueceram esta tradição. Nem que seja porque sonham com um vestido de casamento!”, admitiu António entre risos.

Numa altura em que 70% dos casamentos acabam em divórcio, de acordo com dados da Pordata, e o número de casamento é menor, o casal quer “relembrar que o casamento tradicional também é possível” e que a “fé também é importante”, e que pode ajudar a ultrapassar as dificuldades do dia-a-dia. “Para um casal que tem uma vida em comum, e que partilha fé e valores, é mais fácil resolver as questões que se colocam — em relação à educação dos filhos, por exemplo, ao valor que se dá ao perdão, à fidelidade e ao respeito. Tornam a relação mais fácil.”

24 euros por três meses, 60 euros por um ano 

Ao contrário da maioria dos sites de encontros, a inscrição no datescatolicos.org, que poderá ser feita já a partir de dia 22, é paga. Para ajudar “a cobrir os custos, mas também como medida de segurança”. “Quem paga, está seriamente à procura, sabemos a partir da experiência. A taxa de adesão atua como uma barreira.”

Existem dois modelos de inscrição: uma conta trimestral, com um custo de 24 euros, e uma anual, de 60 euros. Os 300 primeiros utilizadores a inscreverem-se terão direito a uma anuidade totalmente gratuita. Porém, se os números de pré-inscrições corresponderem à realidade, há muito que a fasquia dos 300 utilizadores foi ultrapassada.

Desde que a campanha de pré-lançamento começou, há alguns meses, os emails de pré-inscrição ainda não pararam de chegar. “Ontem, tínhamos mais de mil”, contou António de Brito. Apesar de o número corresponder às expectativas, Marta e António não conseguem evitar a surpresa. “Estávamos à espera de receber por volta desse número. Mas, por outro lado, estamos agradavelmente surpreendidos com a reação, que tem sido muito positiva.”