O ex-presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso considerou esta quarta-feira que Portugal precisa de um Governo composto por forças políticas “coerentes e consistentes”, o que não existiria com partidos que se opõem ao projeto europeu.

“Houve uma força política que ganhou claramente as eleições, a coligação PSD/CDS-PP, com uma vitória clara, mas é verdade que não teve a maioria no parlamento. Por isso seria desejável que houvesse algum acordo entre forças políticas que partilham dos mesmos grandes objetivos, nomeadamente em termos europeus, porque senão não teremos estabilidade e sim um Governo assente numa solução inconsistente e incoerente”, disse Durão Barroso à entrada para o Congresso do Partido Popular Europeu (PPE).

A coligação PSD/CDS-PP ganhou as eleições legislativas de 04 de outubro, sem maioria absoluta, abrindo a porta a uma coligação de esquerda que está a ser negociada entre o segundo partido mais votado, o PS, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (PCP).

Sem nunca referir nomes de partidos em concreto, o antigo primeiro-ministro do PSD sublinhou que “é preciso ver que há partidos em Portugal que merecem todo o respeito, mas que são contra a pertença de Portugal à União Europeia, contra a inclusão do Tratado Orçamental, contra o Tratado de Lisboa – expressamente estão a reclamar a revogação do Tratado de Lisboa -, além de serem contra a NATO, o Fundo Monetário Internacional (FMI), contra a Organização Mundial do Comércio”.

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Para Durão Barroso, Portugal tem, por isso, um problema: “Uma maioria deve ter coerência e consistência”.

“E eu desejo – neste momento não sei o que se pode esperar, parece uma situação complicada – que Portugal não ponha em risco todos os sacrifícios que foram feitos, não se pode brincar com o fogo”, vincou.

Questionado sobre se é o PS quem está a brincar com o fogo, ao negociar com o Bloco de Esquerda e do PCP e não com a coligação PSD/ CDS/PP, Durão Barroso reiterou que “é desejável que haja um Governo coerente em Portugal”.

“Portugal não pode estar no centro da União Europeia, a cumprir os objetivos a que está obrigado, com partidos que, a menos que se tenham convertido noutra coisa diferente, são estruturalmente contra isso. E que o disseram, não num programa há muitos anos, mas sim nestas eleições”, salientou.

Durão Barroso considerou que uma coligação que integre partidos que pensam desta forma seria “meramente uma coligação negativa”, incapaz de “gerar confiança na economia portuguesa, do ponto de vista internacional”.

O antigo presidente da Comissão Europeia alertou que, apesar de Portugal “não estar na situação da Grécia”, também ainda não consolidou a sua economia, ao ponto de estar tornar irreversível a recuperação.

“Muitos especuladores gostariam de jogar com a instabilidade de Portugal, portanto, não se pode brincar com o fogo”, avisou.

Em jeito de conclusão, Durão Barroso explicou que “estabilidade não significa exatamente os mesmos membros no Governo”, mas sim “um apoio suficientemente forte a uma solução governativa, que tenha coerência”.

“Uma maioria coerente é necessária em democracia, senão é apenas um artifício para algumas pessoas se manterem no poder a qualquer custo, o que não me parece correto”, declarou.