Algumas centenas de pessoas concentraram-se ao início da tarde deste sábado na praça Luís de Camões, em Lisboa, no âmbito de uma campanha contra os exercícios militares da NATO, organizada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC).

Os manifestantes desfilaram desde a rua do Carmo, entoando palavras de ordem como “paz sim, NATO não”, “NATO é agressão, não é proteção” ou “a paz é um direito”, para se concentrarem na praça Luís de Camões, no Chiado, em Lisboa.

“O objetivo desta iniciativa que é convocada por mais de 30 organizações, entre os quais o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a CGTP e muitos outros, é dizer sim à paz, não aos exercícios que os militares da NATO em Portugal e noutros países que estão a decorrer neste momento”, afirmou à Lusa Ilda Figueiredo, antiga eurodeputada comunista, que falava em nome da CPPC.

Questionada porque razão são contra este tipo de exercícios, Ilda Figueiredo explicou: “Porque somos contra a NATO, aliás, a Constituição da República Portuguesa no seu artigo sétimo defende a dissolução dos blocos político-militares”.

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Atualmente, disse, “o grande bloco político-militar que existe no mundo é a NATO”, acrescentando que na sua última cimeira esta pediu aos Estados-membros, entre os quais Portugal, “que reforçassem os investimentos para as forças militares para 2%”. Perante isto, “nós dizemos: então em países como Portugal onde dizem que não há dinheiro para salários, para reformas, para a educação, para a saúde e têm sempre que reforçar os orçamentos militares”, questionou.

Questionada sobre se a posição do Partido Comunista (PCP) contra a NATO poderá dificultar a criação de um bloco de esquerda no parlamento, Ilda Figueiredo escusou-se a comentar por estar em representação do Conselho Português para a Paz e Cooperação.

“Se lerem o artigo sétimo [da Constituição], a começar pelo senhor Presidente da República, Portugal preconiza a abolição dos grandes blocos políticos-militares”, afirmou, salientando que esta manifestação também visa a “defesa” da Constituição portuguesa. O deputado comunista Bruno Dias, acompanhado da colega de bancada Ana Mesquita, marcaram presença na manifestação.

“Estamos presentes nesta iniciativa pela paz e contra este exercício militar que está a ser realizado no nosso território. Consideramos que é fundamental dizermos que nos tempos que correm, o que o mundo precisa mesmo é de paz, é de direito internacional, é de respeito pela Carta das Nações Unidas, não é esta escalada militarista, este belicismo, estas operações que preparam, em regra geral, agressões e novas escaladas ao armamento”, afirmou Bruno Dias.

Defendendo a união a favor da paz, da soberania dos povos, “do desanuviamento e do diálogo”, Bruno Dias recordou que em muitas das regiões do globo – desde o sul da Europa, passando pelo Mediterrâneo, Médio Oriente ou Norte de África, entre outros, “está a ficar evidente de que a guerra não traz nada de bom”.

Por isso, é preciso “apostar na paz e no desenvolvimento e diálogo. Quando dizemos não à NATO estamos a dizer que há outro caminho a seguir”, salientou.

Questionado sobre se esta posição do PCP pode ser um entrave a um consenso à esquerda, Bruno Dias afirmou: “Era só o que faltava que numa altura em que há ameaça à paz, em que o belicismo militarismo se apresentam de uma forma tão agressiva como agora, com este exercício ‘Trident Juncture’ que a NATO está a realizar, era só o que faltava que nós ficássemos calados”.

“Estamos empenhados num processo de diálogo para garantir e promover condições de vida melhor para o povo e para o país, mas isso nunca poderia significar que nós calássemos ou abdicássemos dos nossos princípios e das nossas convicções, defesa pela paz não pode nunca ser calada”, concluiu.

Atualmente, decorre em Portugal, Espanha e Itália o maior exercício da NATO desde a Guerra Fria, ‘Trident Juncture’, que arrancou a 21 de outubro e se estende até 06 de novembro.