Janez Potocnik, antigo comissário europeu para os assuntos do Ambiente, avisou o executivo de Bruxelas sobre as discrepâncias entre as emissões testadas e aquelas que se verificavam na realidade, mais de dois anos antes de o escândalo do software fraudulento utilizado por marcas como a Volkswagen ter sido desmascarado pelas autoridades dos Estados Unidos. A revelação foi feita pelo Financial Times, que cita documentos da Comissão Europeia a que teve acesso, entre os quais se incluem cartas trocadas entre Potocnik e António Tajani, ex-comissário com responsabilidades sobre a política industrial.

Numa dessas missivas, datada de Fevereiro de 2013, Potocnik referiu a Tajani que ministros de diversos governos de Estados-membros da União Europeia estavam crentes de que as “significativas discrepâncias” entre a forma como os automóveis com motor a gasóleo se comportavam em teste e em estrada eram a “principal razão” para explicar por que motivo os padrões de qualidade do ar não estavam a descer para os níveis exigidos pela legislação europeia.

Potocnik era claro: “Existem preocupações generalizadas de que a performance dos carros foi manipulada para cumprir os testes, em desrespeito do dramático crescimento das emissões fora dos limites estreitos” previstos. Os automóveis, recordou Janez Potocnik, teriam de cumprir com os limites estabelecidos para as emissões em território da União Europeia em “condições normais de condução”. E o comissário lamentava que a Comissão e os Estados-membros estivessem a falhar na tarefa de obrigar a que aqueles limites fossem respeitados pelos fabricantes, pedindo a Tajani que adotasse medidas para superar o problema.

Os alertas acabaram por não produzir efeitos, já que Bruxelas decidiu manter em vigor um plano que previa a tolerância sobre as práticas entretanto denunciadas até 2017. Em causa está o facto de os motores diesel excederem os limites de emissões de óxido de azoto (NOx) em estrada, apesar de passarem nos testes devido ao uso de software que deteta as situações em que os motores estão a ser sujeitos a exame. A VW é a marca que está no centro do escândalo.

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