“Se o governo de Passos Coelho chumbar no parlamento, como é muito provável, a minha opinião é que Cavaco vai dar posse, no futuro, a um governo de António Costa.” As palavras são de Luís Marques Mendes que, no seu habitual espaço de comentário, argumentou que o comunicado do Presidente da República, feito a 22 de outubro e onde Passos Coelho foi indigitado primeiro-ministro, foi mal percebido. 

Ele [Cavaco Silva] no fundo quis dizer: “«Se este acordo existir [governo à esquerda, com PS, PCP e BE], não acho que seja consistente. Se eu tivesse o poder de dissolver o parlamento, não aceitava esse governo e convocava eleições. Como não tenho esse poder, porque a constituição não o permite, então senhores deputados pensem bem antes de votarem». É aqui que me leva a concluir que Cavaco, se a questão se colocar, dará posse claramente a António Costa”.

O ex-líder do partido social-democrata constatou que “uma parte do país” percebeu exatamente o contrário do que o Presidente quis dizer e referiu-se ainda ao seu “tom excessivo”: “Cavaco Silva tem habituado o país a um tom contido, não exagerado. Uma parte evitável, segundo Mendes, foi o facto de o Presidente da República parecer que “está a incentivar os deputados socialistas a violar a disciplina de voto. Não o diz, mas parece. Parece um mau princípio”. 

Considerando o chumbo do governo de Passos Coelho, Mendes disse que um governo de iniciativa presidencial “é ficção” e não acredita “nem de perto nem de longe” que o Presidente equacione um governo de gestão, visto que “essa hipótese é possível para três ou quatro meses”. O PS alinhado com o BE e o PCP parece ser, por isso, a solução.

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Mas para isso acontecer, acrescentou Mendes, é preciso existir um acordo a quatro anos: “Ainda ninguém viu acordo nenhum. Ao que se diz, o PCP tem colocado muitas dificuldades e torce o nariz a um acordo escrito. Era fundamental que o acordo fosse conhecido antes da votação no parlamento”.

Ainda considerando a hipótese de um governo alinhado à esquerda, Luís Marques Mendes afirmou que António Costa é um vencedor, mas que o Bloco de Esquerda é o “maior vencedor”, visto que está a mudar a sua natureza — “De partido de protesto passa a partido de governo, de partido anti-Europa a partido europeu. Está a fazer uma adaptação à Syriza”. 

O regresso do “animal político” e o discurso “divisionista”

Considerando a atualidade política, Mendes falou também sobre o regresso de José Sócrates que, uma semana depois de ter sido libertado, deu uma conferência em Vila Velha de Ródão, a qual teve três objetivos:

“Fazer a sua defesa pessoal e fazer uma espécie de julgamento paralelo — haverá um julgamento nos jornais e ele faz um na praça pública; fazer-se de vítima e, na mesma linha, tentar descredibilizar os magistrados e a investigação, e intervir politicamente. Ele é um animal político”. 

Já sobre o novo presidente da Assembleia da República — Ferro Rodrigues foi eleito o sucessor de Assunção Esteves com 120 votos dos 230 deputados –, Mendes começou por comentar que acha “um mau princípio” acabar com o que diz ser a tradição (“o partido mais votado designava o presidente”). Não obstante, traça um perfil positivo de Ferro Rodrigues, considerando-o um pessoa com experiência e prestígio, apesar do discurso que teve aquando da tomada de posse: “Sinceramente acho que ele não começou com o pé direito. (…) Alguém que acaba de ser eleito não deveria fazer um discurso divisionista, deveria ser magnânimo”.