A associação Mãos Livres, de ativistas e advogados angolanos, saudou a decisão de Luaty Beirão de terminar com a greve de fome ao fim de 36 dias, lembrando que a luta em Angola é para “manter as pessoas vivas”.

A posição foi transmitida pelo advogado David Mendes que, em nome da associação defendeu em tribunal vários ativistas angolanos, ao longo dos últimos anos, e que hoje tentou ser recebido por Luaty Beirão, na clínica privada de Luanda onde o ‘rapper’ angolano está internado sob detenção.

“A clínica não autorizou, alegando que ele está sob detenção e as visitas só com autorização dos Serviços Prisionais”, lamentou o advogado e dirigente da associação Mãos Livres, de defesa dos direitos humanos em Angola.

Luaty Beirão, de 33 anos e que tem também nacionalidade portuguesa, anunciou hoje o fim da greve de fome, com a qual exigia a sua libertação e dos restantes 14 ativistas presos preventivamente desde junho, acusados de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente da República.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Foi uma decisão sábia porque se ele continuasse com a greve de fome poderíamos ter um fim triste. E eu acho que esta luta deve manter as pessoas vivas para a levarem até ao final”, apontou David Mendes.

O advogado defendeu em maio passado o jornalista e ativista Rafael Marques, no âmbito de um caso de denúncia de alegados abusos dos direitos humanos na produção diamantífera no interior norte de Angola, processo acompanhado pela Lusa, no Tribunal Provincial de Luanda, e ao qual assistiu regularmente Luaty Beirão, nas várias sessões.

“A morte do Luaty não seria boa para a nossa luta”, reconheceu David Mendes.

Internado sob detenção, Luaty Beirão terminou hoje a greve de fome de protesto, durante a qual perdeu pelo menos 23 quilogramas, mas avisou que não vai desistir de lutar pelo fim da “greve humanitária e de Justiça” em Angola.

“Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardamos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça”, afirma Luaty Beirão, na carta enviada pela família à Lusa.

Os restantes 14 ativistas detidos no mesmo processo aguardam julgamento, agendado para 16 de novembro, no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, tendo Luaty Beirão pedido anteriormente para sair da clínica privada onde se encontra por precaução para se juntar aos colegas, em solidariedade.

“À sociedade: Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare”, escreve Luaty Beirão na mesma declaração, sob o título “Carta aos meus companheiros de prisão”.

O ativista angolano reclamava excesso de prisão preventiva, exigindo aguardar julgamento – entretanto marcado para 16 de novembro, em Luanda, – em liberdade, como prevê a lei angolana para este tipo de crime.

Na carta, a que a Lusa teve acesso, Luaty Beirão, que assina com os heterónimos musicais “Brigadeiro Mata Frakuzx” ou, mais recentemente, “Ikonoklasta”, um dos rostos de contestação ao regime angolano, reconhece o apoio, nacional e internacional, pela “libertação” destes ativistas.

Dirigindo-se diretamente aos restantes 14 ativistas detidos, atira: “Não vejo sabedoria do outro lado. Digo-vos o que disse noutras situações semelhantes: Vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo. Vou parar a greve”.