A Austrália, um dos maiores exportadores mundiais de carne, ridicularizou hoje um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) que diz que a carne processada é cancerígena, considerando uma “farsa” sugerir que pode ser tão letal como o tabaco. “Não, não deve ser comparada aos cigarros e obviamente isso faz com que tudo isso seja uma farsa — comparar salsichas a cigarros”, afirmou o ministro da Agricultura australiano, Barnaby Joyce à rádio nacional.

Lembramos que a classificação da Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC, na sigla em inglês) se limita a avaliar as provas científicas que ligam um agente ao aparecimento de cancro e que nada diz sobre o risco que cada agente constitui (como lhe explicamos aqui).

O “mais importante” a fazer é garantir uma “dieta equilibrada”, dado que é impossível para os humanos evitar todo o tipo de cancro causado por toxinas na vida moderna, assinalou.

Um estudo divulgado na segunda-feira pela Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro adverte que a carne processada — como bacon, salsichas ou presunto — é cancerígena para os seres humanos e que a carne vermelha “provavelmente” também o é.

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O grupo de trabalho da IARC, agência que depende da OMS, teve em consideração mais de 800 estudos que investigaram a associação de mais de uma dúzia de tipos de cancro com o consumo de carne vermelha e de carne processada em vários países e populações com diferentes dietas.

O estudo coloca a carne processada na categoria 1 dos cancerígenos, o mesmo grupo que inclui substâncias como o álcool, amianto e tabaco. “Se pegarmos em tudo o que a Organização Mundial de Saúde afirma ser cancerígeno e tirarmos das necessidades diárias, somos capazes de voltar à caverna”, sublinhou ainda o ministro australiano.

Os australianos estão entre os maiores consumidores de carne do mundo. Também têm a oitava maior taxa de incidência de cancro colorrectal.

O relatório da IARC refere que a ingestão diária de 50 gramas de carne processada — menos de duas fatias de bacon — aumenta em 18% a probabilidade de desenvolver cancro colorrectal (também conhecido como cancro do intestino). No entanto, só quando o relatório for publicado integralmente se poderá perceber o que os autores entendem com este aumento.

O documento foi elaborado por um grupo de trabalho composto por 22 especialistas de dez países, que foram convocados para o Programa de Monografias da IARC, organização com sede na cidade francesa de Lyon.

O grupo de trabalho considerou que existem “provas suficientes” de que a ingestão de carne processada está ligada ao cancro colorrectal.