No final deste mês de novembro, nomeadamente nos dias 28 e 29, vai ser realizada a próxima campanha do Banco Alimentar Contra a Fome. Por isso, e para uma conversa sobre o estado atual do país, a presidente da associação, Isabel Jonet, concedeu uma entrevista ao Jornal de Notícias, publicada na edição impressa do jornal desta segunda-feira. 

Na entrevista, Jonet fala, entre outras coisas, do Estado Social, e naquele em que acredita, nas IPSS e nos seus desafios ou nas dificuldades que o país ainda enfrenta.

Assim, e falando sobre o estado atual de Portugal, a presidente do Banco Alimentar cita num estudo dos bancos alimentares e da Universidade Católica para afirmar que as “pessoas interiorizaram que nunca mais terão a vida que tinham” e que “perceberam que não vão poder ter acesso ilimitado ao crédito.” Tudo isto porque, na sua opinião, a “retoma é ainda muito frágil, não chegou às famílias.” No entanto, e no rescaldo de um período de austeridade, as pessoas já têm a sensação que “podem voltar a respirar” devido à existência de “mais investimento e mais emprego”.

Mas Isabel Jonet mantém a mesma opinião de que os portugueses e o país viveram acima das suas possibilidades, e que essa foi uma das razões pelas quais chegámos a esta situação: 

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Muitas (famílias), até as de classe média baixa, tinham crédito ao consumo. Tinham a expectativa legítima de viver melhor, e depois eram induzidas em erro. Temos muitas famílias sobre-endividadas e com ordenado penhorado, por dívidas à banca, ao Fisco, e à Segurança Social, porque havia a noção de que podemos pagar depois.”

Mas esta noção e os tempos em que se vivia acima das possibilidades parecem ter chegado ao fim. Isto porque, as pessoas “não têm mais rendimentos, mas sentem-se mais pobres.”

IPSS atingiram limite da sua capacidade

Sobre as Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS) portuguesas, que considera ser uma “rede como há poucas na Europa”, Isabel Jonet assegura que estas atingiram o limite da sua capacidade. Aproveitando o tema das IPSS, a também presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares, defende que o Estado não “deve meter-se de mais” na vida das pessoas:

O Estado deve confiar às IPSS os cuidados, até porque estas estão mais próximas. Mas não deve meter-se de mais, para coisas para as quais não tem vocação. O papel do Estado deve limitar-se exclusivamente à garantia desses direitos, a assegurar que a gestão é correta e a satisfação das necessidades está assegurada.”

Numa visão mais alargada sobre o Estado Social, a economista de formação não acredita que seja possível manter o “Estado Social como tinha sido idealizado no pós-guerra”. Isto porque as pessoas têm, nos dias de hoje, o dobro da esperança de vida:

Acredito num Estado Social que chegue verdadeiramente a quem dele necessita. Atualmente, não é possível manter o Estado Social como tinha sido idealizado no pós-guerra, porque as pessoas têm o dobro da esperança de vida. Nós tínhamos um modelo de sociedade que era baseado numa esperança de vida de 60 anos (…) Há que pensar até onde há verbas para manter o Estado Social e, se o queremos manter, temos que encarar com realismo a quem é que deve dirigir-se.

Por tudo isto, Isabel Jonet defende que o Estado Social perfeito tem que ser “para os mais fracos dos mais fracos.”