O investigador e professor universitário Manuel R. Torres, que pertence ao Grupo de Estudos sobre a Segurança Internacional (GESI), fez um inventário das ameaças feitas a Espanha em 2015, por membros e organizações ligadas à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. Os dois grupos extremistas incitam à reconquista da parte da Península Ibérica ocupada por muçulmanos entre o século VIII e o século XV, no território conhecido como Al-Andalus.

10 de setembro de 2015: A “Primavera Islâmica” e a reconquista da península

A última ameaça surgiu a 10 de setembro, num vídeo onde o líder da Al-Quaeda incita a um movimento a que chama de “Primavera Islâmica”. O sucessor de Bin Laden fala do controlo islâmico de Al-Andalus no passado e diz que se deve levar “a guerra ao coração das casas e cidades do Ocidente”. Al Zawahiri desclassificou ainda a organização Estado Islâmico, a que chamou “ilegítima”. Mas afirmou que ambas podem juntar forças na luta contra o Ocidente.

9 de setembro de 2015: A vulnerabilidade do Ocidente

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Um artigo intitulado “Vingança para o profeta”, publicado a 9 de setembro na revista “Inspire” da Al-Qaeda, recupera declarações anteriores do sheikh Nasr al-Anisi, que menciona as “debilidades” que existem nos países ocidentais, referindo-se às suas respostas a ataques como o que foi feito à redação do Charlie Hebdo, em janeiro. “Os líderes dos [países] não-crentes deram-se conta disto [da sua vulnerabilidade] depois de terem sido surpreendidos pelos acontecimentos. Reparem como se reuniram, manifestaram e apoiaram mutuamente; fortalecendo as suas debilidades e cobrindo as suas feridas”, escreveu.

3 de setembro de 2015: “Irmãos em Espanha, peguem nas vossas armas” 

A 3 de setembro foi o braço militar da Al-Qaeda, “Al-Qaeda no Magreb Islâmico”, que num vídeo chamado “A incursão sagrada”, incitava diretamente os muçulmanos presentes em Espanha – sobretudo no enclave espanhol de Melilla, no norte de África – a “dirigirem-se para qualquer sítio que tenha uma jihad“, a “virem combater” e “pegar nas suas armas”.

29 de agosto de 2015: Estado Islâmico e as desejadas terras de Al-Andalus

A 29 de agosto era publicado um vídeo feito por um dos meios de propaganda do Estado Islâmico: o Centro de Media Al-Hayat. No filme, intitulado “a ascensão do califado e o regresso ao dirar de ouro”, surgem imagens da mesquita de Córdoba e do palácio e fortaleza de Alhambra, na cidade de Granada. O intuito? Recordar os tempos gloriosos em que a Península Ibérica era ocupada por muçulmanos. 

14 de julho de 2015: Mais uma menção à reconquista da Península

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Outro vídeo do Estado Islâmico, este publicado a 14 de julho e chamado “mensagem ao povo da Argélia”. O extremista islâmico Wilaya de Raqqa é claro: “Acendeu-se o fogo da guerra na Argélia, e as suas chamas não se extinguirão até à conquista de Al-Andalus”.

25 de junho de 2015: o regresso a uma Espanha muçulmana

A 25 de junho era publicado um número especial da revista “Resurgence”, um dos órgãos da Al-Qaeda. Nele consta uma entrevista extensa ao norte-americano Adam Gadham, um dos terroristas assassinados pela CIA em janeiro, no Paquistão. Na entrevista, Gadham fala da vontade em celebrar a “recuperação de uma Espanha muçulmana”.

15 de maio de 2015: recuperar Al-Andalus e criar “província” na Europa

Em maio foi difundido um vídeo do Estado Islâmico que deixava um aviso ao Ocidente: o califado anunciava querer criar uma “província” na Europa e retomar o controlo de parte da Península Ibérica – os territórios que outrora foram de domínio muçulmano.

12 de março de 2015: Primeiro Paris, depois Roma e Espanha

https://www.youtube.com/watch?v=lsHo2S57Mpw

Numa gravação áudio dada a conhecer no dia 12 de março deste ano, o auto-proclamado líder do Estado Islâmico anunciava as  intenções da ISIS: “Devem saber que queremos [controlar] Paris – com a permissão de Alá -, antes de Roma e antes de Espanha. Depois é tempo de vos fazer as vidas negras e destruir a Casa Branca e a Torre de Eiffel, com a permissão de Alá (…)”, afirmava Abu Muhammad al Adnani.

22 de fevereiro de 2015: “Nas ruas com facas para rasgar ventres e decapitar cabeças”

A Fundação Media Al-Khilafah, que apoia o Estado Islâmico, difundia em fevereiro um artigo em francês, chamado “Os lobos solitários”, escrito pelo terrorista Hamil al-Bushra. Al-Bushra escrevia: “Eles [os lobos solitários] seguem o exemplo dos seus antecessores (…) revoltam-se contra a humilhação e saem às ruas de Madrid, Texas e Sydney, com facas nas suas mãos brancas, para rasgar ventres e decapitar cabeças (…) Sentireis a [sua] respiração quando forem discretamente aniquilados nas ruas de Londres, Madrid e Sidney”.

12 de fevereiro de 2015: o enaltecimento dos ataques a Madrid e Londres

Em fevereiro saía na revista Dabiq uma entrevista com Abu Umar al-Baljiki, um dos membros da jihad. Al-Baljiki enaltece os bombardeamentos a Madrid em 2004 e a Londres em 2005 – causados por extremistas ligados à causa islâmica, mas que não pertenciam a nenhuma célula oficial da Al-Qaeda. “As duas operações juntas mataram más de 200 cruzados, e feriram mais de 2000 pessoas”, escreve. A ideia é extinguir os não-crentes.

14 de janeiro de 2015: As feridas por sarar e a vingança esperada

https://www.youtube.com/watch?v=bVGHYtN8KqM

A primeira ameaça do ano surgiu logo em janeiro, num vídeo do terrorista Nasr al-Inisi, que reclamava os louros do ataque à redação do Charlie Hebdo, em Paris. No vídeo, chamado “Vingança pelo Profeta: uma mensagem sobre a batalha sagrada de Paris”, Nasr al-Inisi, que viria mais tarde a reafirmar o mesmo num órgão de comunicação do Estado Islâmico, falava das feridas por sarar: em París, Nova Iorque, Washington, Londres, em Espanha e na Palestina. E os alvos do ISIS eram “os mesmos que nos combateram no Afeganistão, no Cáucaso, em Gaza, em Levante, no Iraque, na Somália e no Iémen”.