Circulou no Twitter, na semana passada, uma história épica lida por milhões de pessoas, em que uma mulher de 19 anos, residente em Detroit, descreve uma viagem “louca” de fim de semana com uma mulher que mal conhecia e que quase acabou mal. Mas a dúvida que se instalou foi: será a história verdadeira?

Aziah Wells (Aziah King, no Twitter, @_zolarmoon), conta que pensou ir apenas dançar para um clube de strip em Tampa, quando se viu no meio de um conjunto de situações macabras, desde um tiroteio (que não aconteceu na verdade), a um cenário de prostituição, rapto, tentativa de suicídio e tráfico. Uma história que parecia inventada, mas que afinal aconteceu mesmo. E que apesar de ter outros contornos é ainda mais surpreendente, conta o Washington Post.

true story

“A história selvagem de Zola”. Foi o título da cantora e produtora Missy Elliott ao ler a história de Aziah Wells. “Acabei de ler tudo como se estivesse a ver um filme no Twitter”, acrescentou. Um filme real e não de ficção. Porque o Washington Post conseguiu comprovar bastantes pormenores da saga de Wells, incluindo a existência do homem de que ela fala na história e que pode estar mesmo a ser julgado por assaltos, crimes sexuais e tráfico de mulheres.

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O Washington Post decidiu fazer uma investigação mais profunda da história de Zola, entrevistando os protagonistas: Jessica Swiatkowski, o seu ex-namorado Jarrett Scott e a polícia envolvida na investigação. Eis o que descobriu sobre o que aconteceu realmente em Tampa:

Aziah Wells (Zola) conheceu realmente Jessica e o seu amigo Rudy em Detroit. Todos decidiram alinhar no fim de semana para Tampa: as duas raparigas, o ex-namorado de Jessica e Rudy (o suposto manager das raparigas) cujo nome verdadeiro é Akporode Uwedjojevwe. O objetivo era dançar nos vários clubes de strip de Tampa e ganhar muito dinheiro com isso.

E é aqui que começam os problemas com Rudy, “Z”, o manager.

Aziah contou no Twitter que Rudy lhe roubou o telemóvel e lhe criou um perfil numa página de prostitutas, na qual também já aparecia Jessica. “Z” ter-se-á tornado violento a certa altura com Jessica, reservando-lhe vários clientes e roubando-lhe todo o dinheiro, depois. E terá também intimidado Scott, o amigo, ameaçando bater-lhe durante todo o fim de semana. Foi nessa altura que Aziah (Zola) percebeu que alguma coisa estava mesmo errada.

Mas quem é este Rudy? É Akporode Uwedjojevwe, também conhecido por “Z”, o homem que foi preso no Nevada, acusado de tráfico de mulheres, agressões sexuais, assalto, mas não por homicídio como a história de Zola relatava inicialmente. O Washington Post descobriu que Rudy já tinha tentado antes este esquema com outras mulheres e com a ajuda de Jessica Swiatkowski. O esquema era simples: levar as mulheres a acreditar que podiam ganhar muito dinheiro a dançar em clubes de strip, tentando, depois, levá-las para o mundo da prostituição.

Segundo o Washington Post ele já havia aliciado antes duas mulheres, Jessica Forgie e Pella. Rudy chegou até elas através de Jessica Swiatkowsky. Ambas explicaram à polícia que Rudy exigiu que elas criassem um perfil na página de prostituição e que nessa altura perceberam que algo estava errado. Forgie esclareceu que implorou a Rudy para que a deixasse ir embora e que estava hospedada num hotel em Peppermill, na Virginia, quando Rudy a tentou agredir sexualmente.

Os registos policiais revelam que Rudy foi preso horas depois na South Virginia Street, perto de Peppermill. As duas mulheres acreditam que Rudy e Jessica eram cúmplices no esquema, embora ela tenha negado tudo ao Washington Post.

Aziah King (Zola) terá escapado a este esquema de Rudy a tempo, mas o mesmo não aconteceu às outras duas mulheres, Forgie e Pella, que se viram envolvidas num cenário de agressões e que confirmam a veracidade da história. A polícia confirmou que foram ouvidas e encaminhadas, na altura, para a unidade dos serviços de apoio às vítimas.

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A história de Zola gerou muitas críticas, tendo sido acusada de estar a mentir e de ter inventado tudo.”A reação das pessoas à história de Wells mostra como a vida da prostituição é tão pouco conhecida”, revela a diretora de um projeto ligado à prostituição, Sienna Baskin. “As prostitutas experimentam um elevado nível de violência, em grande parte pelo estigma relacionado com o que fazem”, acrescentou, explicando que na maioria das vezes as mulheres têm dificuldade em procurar ajuda.

“As pessoas pensam que esta história é falsa, mas precisam de ter uma mente aberta”, disse Pella. “As coisas que vemos na televisão às vezes acontecem mesmo, são reais (…) aconteceu comigo”, acrescentou.