Já quase todos ouvimos — de pais, avós ou outras pessoas mais velhas — frases de incompreensão sobre os smartphones, que às vezes denotam até algum medo dos aparelhos. E foram algumas dessas frases a que, segundo o El País, a jornalista espanhola Nora Arrieta quis dar resposta.

Nora Arrieta começou por criar os workshops “Tu também podes” — cursos curtos e específicos sobre a utilização de tablets, computadores e telemóveis. Agora publicou um livro sobre a utilização de smartphones, que sugere formas de ajudar os mais velhos a usarem estes aparelhos.

A jornalista espanhola explicou ainda ao El País o seu interesse pela área, que a levou a publicar o livro:

Há uma geração, sobretudo acima dos 60 anos, que está aprisionada pelas novas tecnologias que os jovens às vezes, inconscientemente, lhes impõem (quando lhes oferecem um smartphone, por exemplo), mas que [apesar dessa imposição] não têm tempo para os ensinar [a usá-los].

Aqui ficam algumas das frases que Nora Arrieta destacou e que, pela sua experiência, são as mais utilizadas por aqueles que têm pouca familiaridade com os telemóveis. A autora deixa ainda sugestões sobre como tranquilizar estes receios.

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“Se toco nisto ainda apanho um choque”

Talvez já tenham ouvido esta frase vinda de alguém, se sugeriram o aparelho a um avô na fase embrionária da sua popularidade em Portugal. Entre os frequentadores dos workshops de Nora Arrieta, pelo menos, ela foi dita várias vezes. “Este é um tema que os preocupa muito. Pensam que por mexer no telemóvel o podem estragar, mas se se desse o caso de apagarem ou alterarem algo que não se possa reverter, o telefone avisá-los-ia”, explica a jornalista.

“Espero não estar a comprar nada por engano”

A resposta para este receio, explica Nora Arrieta, deve ser a mesma dada à pergunta anterior: se isso acontecer, o telemóvel avisará sempre o utilizador, pelo que o perigo de fazer o download de algo pago inadvertidamente diminui. “Tive um aluno a quem cobraram 10 euros por um jogo que [ele] nem sequer conseguia encontrar no telemóvel, mas é muito raro encontrar casos destes”, explica. Para além disto, o Google Play ainda oferece um pequeno tutorial sobre como reembolsar quem se engana e adquire algo pago sem saber — pelo que não há mesmo que ter receio.

“Isto é muito complicado, é para os jovens”

Outra das barreiras iniciais dos mais velhos para usarem os smartphones é o receio da dificuldade em usar os aparelhos. “É muito complicado” ou “já não tenho idade para aprender isso” são frases que se ouvem habitualmente. Mas são justificadas? Na opinião da jornalista, não: “Aos meus alunos digo sempre que estou a tirar a carta de condução aos 40 anos e isso parece-me uma coisa ultra complexa. E muitos dos meus alunos têm-na!”. Em suma, é tudo uma questão de prática: e nunca é tarde para aprender.

“Há muitos botões, nem sei para que é que servem”

Outro dos receios dos que desconfiam dos smartphones é a complexidade da informação existente, e a quantidade de aplicações que assustam desde logo. Mas não há que ter medo: o essencial é ensinar-lhes o básico, aquilo que mais usarão. O resto fica para mais tarde, se o bichinho se instalar.

“Explica-me o que é o WhatsApp?”

Esta é uma das ferramentas mais interessantes dos smartphones para os mais velhos. Afinal, permite-lhes conversar com netos, filhos ou sobrinhos, sem necessidade de ninguém se deslocar. Mas é também nisso que os mais novos podem ter um papel a dizer, explicando o que é e como se usa esta aplicação.

“O que são as selfies?”

Segundo Nora Arrieta, durante os cursos que leciona, a utilização da câmara fotográfica é, a par do WhatsApp, “o que mais interessa aos alunos”. “Explico-lhes que é apenas o ato de tirar uma foto a si mesmos, mas com um nome inglês, que é mais atrativo. Quando lhes estou a explicar, muitos mostram um rosto iluminado, dizendo ‘aaaah!, por isso é que as pessoas andam nas ruas com aqueles paus’ [selfie stick]”. A jornalista aconselha ainda os mais jovens a verem a cara dos mais velhos quando tiram, pela primeira vez, uma selfie: “É enternecedor”.

O que faltará, agora que já se sabe responder às maiores dúvidas dos mais velhos sobre os smartphones? “Ter muita paciência, usar uma linguagem simples e, sobretudo, evitar tirar-lhes o telemóvel e dizer vá, eu faço por ti, porque assim nunca aprenderão”, afirma.