Michelle Obama não quer mais meias-palavras. A estratégia agora passa pelas perguntas incómodas e pelo apontar de razões inconvenientes. A primeira-dama dos EUA fez um discurso de quase 25 minutos sobre a importância da educação das meninas e mulheres e diz ter um objetivo: “Romper com as tradições antigas que prejudicam as mulheres” e que “não as consideram como membros plenos da sociedade“. 

O apelo aconteceu em Doha (capital do Qatar), no âmbito da World Innovation Summit for Education (Cimeira Mundial da Inovação na Educação), uma iniciativa da Qatar Foundation. Michelle lembrou os milhões de meninas em todo o mundo que não vão à escola ou que não completam a escolaridade que lhes permita ter uma profissão. 

“Se queremos verdadeiramente que as nossas meninas vão a escola, então temos de ter uma conversa honesta sobre a forma como olhamos e tratamos as mulheres na nossa sociedade (…) e esta conversa tem de acontecer em todos os países, incluindo no meu”, cita o The Guardian.

Para Michelle Obama, a falta de acesso à educação é um problema que deve ser atacado pela raiz. Porque as consequências estendem-se pela vida toda. “Quando as meninas são novas são simples crianças mas depois chegam à adolescência, tornam-se mulheres e estão sujeitas a todos os preconceitos da sociedade”, aponta. “São os pais que têm de decidir se as filhas merecem tanto ir à escola como os filhos”, rematou. 

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No evento foi entregue o prémio Educação 2015 à afegã Sakena Yacoobi, 65 anos, fundadora e presidente da ONG Instituto Afegão de Aprendizagem que criou uma rede de 80 escolas clandestinas nos anos 90, quando o regime proibiu as meninas de estudar. O prémio é de 500 mil dólares e destina-se a reconhecer “os incansáveis defensores do direito à educação”, esclarece o El Mundo.

Para dar um exemplo de como a equação funciona, nada melhor que falar de si própria. Conta Michelle que, quando era criança, já era uma miúda com “muitas opiniões” mas os professores diziam-lhe que “jamais” seria admitida numa universidade com prestígio. “Diziam-me que tinha de ser discreta, modesta nas minhas ambições, não fazer demasiadas perguntas… Mas não dei atenção a essas pessoas. Fui à escola, andei em universidades prestigiadas.”

Mesmo as meninas que podem ir à escola enfrentam alguns perigos, lembra a primeira-dama americana. “Quando chegam à escola secundária, muitas vezes correm alguns riscos, como o caso da Malala no Paquistão ou das meninas sequestradas pelo Boko Haram na Nigéria. Há meninas perseguidas e agredidas sexualmente quando vão ao colégio”, concluiu.