Investigadores das universidades de Aveiro, Coimbra e Porto procuram desvendar segredos da construção do Mosteiro da Batalha através de prospeções por georradar, resistividade elétrica e ondas sísmicas, num trabalho que já permitiu “ver” mais sobre este monumento Património da Humanidade.

À agência Lusa, o professor de Geofísica da Universidade de Aveiro Manuel Matias, que lidera o projeto, explicou que a prospeção, através de métodos “não invasivos, não destrutivos”, vai permitir saber “o que está por baixo do mosteiro, as fundações e como é que foi construído inicialmente no século XIV”.

Numa primeira prospeção com georradar, efetuada em 2014 no transepto da igreja deste monumento do distrito de Leiria, foram detetadas “estruturas soterradas, em particular, sepulturas, eventuais muros ou canalizações primárias antigas que existiriam no princípio do mosteiro”.

Mais recentemente, o trabalho continuou na Capela do Fundador, o panteão familiar de D. João I e onde está sepultada a Ínclita Geração, a Sala do Capítulo (onde estão sepultados dois soldados desconhecidos mortos na I Guerra Mundial) e parte da igreja, com incidência na área onde está a sepultura de um dos principais arquitetos do mosteiro, Mateus Fernandes.

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À entrada da igreja “foram ‘descobertas’ uma série de estruturas indiciadoras de que no local estão outros espaços fúnebres”, declarou Manuel Matias, confirmando o que já constava nos desenhos de James Murphy, engenheiro que, no final do século XVIII, fez o primeiro levantamento arquitetónico do mosteiro.

As prospeções, que se vão repetir noutros espaços do interior e, ainda, no exterior do monumento, mandado erguer por D. João I para agradecer a vitória sobre os castelhanos na Batalha de Aljubarrota, contemplam a passagem de uma corrente elétrica numa determinada área que é medida em equipamentos próprios, originando uma imagem no computador.

Manuel Matias esclareceu que através da interpretação da imagem, “uma tomografia falando em termos médicos”, a equipa vai “tentar perceber a que é que corresponde em termos de estruturas subterrâneas que aqui existam”. “Estamos a tentar perceber as variações de terreno que existem por baixo de nós, se temos zonas mais condutoras, que terão mais água, mais terra, de zonas menos condutoras, que terão mais pedras, mais elementos construtivos ou eventualmente elementos vazios”, declarou.

O projeto, com a colaboração da empresa Morph, foi iniciado em 2014 e já este ano objeto de um protocolo entre a Universidade de Aveiro e a Direção-geral do Património Cultural. Para o responsável, com este trabalho, que classificou como “moroso”, sabe-se, literalmente, “mais a fundo a história do monumento”.

“Estas colunas que estão aqui ninguém sabe como foram construídas e nós, a partir de ondas sísmicas, conseguimos fazer uma ‘radiografia, um raio-X’ do que está no interior (…). Não pensamos que elas sejam em rocha maciça, têm rocha aqui à volta que se vê e, por dentro, estarão com enchimento”, adiantou.

Quatro colunas estão estudadas e vai ser iniciado o estudo sistemático das restantes, assim como das paredes, para aferir se são simples ou duplas e qual o enchimento. Manuel Matias acrescentou que as prospeções contemplam outras mais-valias para o monumento, como a possibilidade de uma visualização 3D do que está por baixo do lajedo, no que será uma viagem virtual ao subsolo do monumento, iniciativa que pode estar concluída dentro de ano e meio.

Para o diretor do Mosteiro da Batalha, Joaquim Ruivo, trata-se de uma “investigação aliciante para um melhor conhecimento do mosteiro, mas igualmente para os investigadores que aqui têm terreno fértil para testar os seus métodos e a sua tecnologia”.

“Na realidade, sem necessidade de recorrer a técnicas arqueológicas tradicionais — que não se justificariam para já — com estes métodos de prospeção é possível identificar determinadas anomalias no subsolo e conhecer melhor até as próprias condições geofísicas do terreno em que assenta o Mosteiro”, afirmou, admitindo que haverá sempre segredos no mosteiro, “sobretudo quando a documentação histórica é escassa”.