“Sempre disse que não abandonava o meu país. Se não me deixam lutar por ele no Governo, como quiseram os eleitores, lutarei no Parlamento”. Foram estas as últimas palavras de Passos Coelho num discurso mais voltado para o futuro e já mais vestido de líder da oposição do que de primeiro-ministro – afinal, estava prestes a ser derrubado por PS, Bloco e CDU.

Pelo meio, Passos teceu duras críticas à aliança da esquerda e deixou um aviso: “Quem hoje votar pelo derrube de um Governo legítimo não terá legitimidade depois para reclamar sentido de responsabilidade e patriotismo“. 

Foram estas as principais ideias da intervenção de Pedro Passos Coelho no Parlamento. Primeiro, o acordo entre os três partidos está ferido de “legitimidade” e o “cimento” que os une é apenas um: derrubar o Executivo PSD/CDS. “Parece-me evidente que António Costa não quis juntar-se à maioria europeia” porque preferiu aliar-se “a minorias que o têm combatido desde sempre” sem quaisquer “laços” que os unam “em matérias de fundo e de soberania”, insistiu o primeiro-ministro. 

“Falta identidade, falta cimento. É um governo que é a soma de votações minoritárias. O ‘todo’ do governo que se está a anunciar fica aquém da soma das partes. [Estes] acordos não sustentam maioria positiva junto do Presidente da República“, defendeu Passos.

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Nesse sentido, e por recusar um acordo que lhe seria mais natural em termos ideológicos, António Costa prova que é movido apenas “pelo apetite pelo poder”

O primeiro-ministro, tal como Paulo Portas o havia feito horas antes, deixou claro que o PSD não será bombeiro quando a governação socialista colocar o país novamente em dificuldades – o líder centrista chegou mesmo a dizer que nunca dará a mão ao “pirómano de serviço”. Passos não foi tão longe, mas deixou claro que esta aliança ilegítima não tem legitimidade para exigir “sentido de responsabilidade” e “patriotismo” a sociais-democratas e centristas quando tudo falhar.

A terminar, e depois de um discurso onde lembrou o caminho percorrido pelo Governo depois de ter recebido a herança negativa do anterior Executivo de José Sócrates, Pedro Passos Coelho deixou a garantia que não sairá de cena mesmo depois de derrubado pela oposição. Não está agarrado ao poder, garante, mas tem um objetivo claro: fazer marcação cerrada ao Governo socialista

“Não é todos os dias que se sai do governo com o voto do eleitorado. Poucos políticos se poderão orgulhar dessa circunstância. Cá estaremos a lutar por Portugal como de resto estamos habituados a fazer. Em coerência e fiéis aos nossos princípios. Sempre disse que não abandonava o meu país, e não abandono. Se não me deixam lutar por ele no governo, como quiseram os eleitores, lutarei no Parlamento”, garantiu Passos Coelho.