Há um super-herói a lutar pela segurança e conforto dos peões na Cidade do México. O “Peatónito” pode ser facilmente identificável pela sua capa às riscas brancas e pretas, representando as passadeiras na estrada, o vestuário todo preto também e a máscara de lutador de ‘wrestling’ ou luta livre em bom português. 

A sua missão é lutar pela segurança dos peões. A sua ação faz sorrir a maioria dos condutores. Depois de dizer o seu lema em jeito de apresentação, como qualquer herói que se preze —”O meu nome é Peatónito, e luto pelos direitos dos peões” —, avança sempre que um sinal fica vermelho para os carros e algum fica em cima da passadeira impedindo os peões de passarem. Nessa altura lá vem o Peatónito empurrar o veículo para trás. O seu local de eleição é a Avenida Juárez e a Eje Central, onde cerca de 9 mil pessoas passam a cada hora. Nas horas de ponta, a circulação de pessoas e carros é mesmo caótica. 

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“O meu nome é Peatónito, e luto pelos direitos dos peões”. SEAN SMITH/THE GUARDIAN

As primeiras aparições deste defensor dos direitos dos peões ocorreu em 2012, quando surgia armado com um Código da Estrada e com um spray de tinta branca para pintar passadeiras nas estradas onde elas não existiam. Uma medida pertinente tendo em conta uma cidade onde existem 5.5 milhões de carros em circulação. E onde a maneira mais rápida e fácil de as pessoas se deslocarem é mesmo a pé. Isto leva a que na Cidade do México 52 acidentes em cada 1000 sejam fatais, quando no resto do país são 39 os acidentes fatais em cada 1000.

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Como conta o The Guardian, não é de admirar que numa cidade onde a enorme circulação de carros, juntamente com infraestruturas rodoviárias deficientes e uma política de segurança rodoviária, ainda, quase inexistente resulte em taxas de mortalidade tão grandes. E maiores do que em qualquer parte do país.

O trabalho do herói mexicano ganha ainda maior importância quando se olha para os números do Conselho Nacional para a Prevenção de Acidentes: em 2013, 491 peões morreram em acidentes na capital mexicana. Este número representa 6% do total de mortes de peões em todo o país. Num país com uma população a rondar as 120 milhões de pessoas, a percentagem é significativa. Depois, se olharmos para as mortes de condutores ou passageiros, este número reduz para metade. Nesse mesmo ano 265 pessoas morreram enquanto estavam ao volante ou viajavam no carro. Ou seja, em termos de circulação rodoviária, na Cidade do México o risco de se ser peão é bem maior do que ser condutor ou passageiro.

Jorge Cáñez. É este o homem por detrás do mascarado Peatónito. Este cientista político de 29 anos trabalha num laboratório de tecnologia cívica do Governo mas, duas vezes por semana, veste a máscara e vai para as ruas da Cidade do México lutar pela segurança rodoviária.

Na Cidade do México, só ir de A para B é a coisa mais perigosa, complicada e ineficiente que se pode fazer (…) Quando era estudante, disse a mim próprio: ‘Eu não vou descansar até encontrar a razão pela qual os transportes públicos desde minha casa até há universidade são tão maus, e até encontrar uma solução”, Jorge Cañez ou Peatónito.

Foi assim que começou a surgir o novo super-herói mexicano. E a sua ação não se faz apenas mascarado. Há uma década que investiga como são concebidas as políticas de transporte público na Cidade do México para tentar encontrar uma forma de as melhorar. E já recebeu o apoio de vários grupos de ativistas.