O Presidente angolano aludiu esta quarta-feira à “ingerência” em assuntos de soberania para sublinhar que “na política não vale tudo” e assumir que se deve dar oportunidades à juventude, além de recusar críticas de corrupção no país.

As posições foram transmitidas na mensagem à nação sobre os 40 anos da independência de Angola, emitida às 00:00 (menos uma hora em Lisboa) de 11 de novembro, pela rádio e televisão públicas, em que José Eduardo dos Santos apontou a necessidade de o país crescer a seis por cento ao ano para “acelerar a diversificação da economia e o crescimento do emprego”, e “reduzir significativamente a pobreza”.

Numa altura particularmente sensível em Angola, com sucessivas manifestações promovidas por jovens contestatários do regime, apelidados de “revús” – revolucionários -, como o grupo de 15 elementos detidos desde junho por suspeita de prepararem uma rebelião no país, José Eduardo dos Santos reservou algum tempo dos quase 40 minutos de discurso para a juventude, que recordou ser dois terços (menos de 25 anos) da população.

“Sabemos que os jovens querem tudo resolvido de um dia para o outro. Assim foi em todas as gerações anteriores. Somos um país independente, respeitado e admirado por muitos por causa do bom trabalho do seu Povo, e da sua juventude em particular. Temos que continuar a transformar a energia e o dinamismo da juventude em alavanca para continuarmos a construção de uma Nação mais próspera, feliz e justa”, apontou.

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Enfatizou que a “Nação deve assumir como sendo seu dever trabalhar para garantir um futuro melhor à juventude” e que “deve fazer tudo” para oferecer aos jovens “cada vez mais oportunidades de crescimento pessoal e profissional”.

A movimentação dos jovens contestatários foi associada, recentemente, até por membros do Governo angolano, a tentativas de ingerência estrangeira nos assuntos nacionais, através de alegados apoios a estes grupos.

Ainda assim, disse o Presidente angolano, sem concretizar, “o egoísmo e o desrespeito das normas do direito internacional e particularmente a ingerência nos assuntos internos de outros Estados por países mais fortes são fatores que geram instabilidade, tensão e conflitos armados com consequências políticas e sociais graves, pondo em risco a segurança internacional”.

Antes, José Eduardo dos Santos disse que a política atual é “feita por meios pacíficos e democráticos”, precisamente quando os ativistas sob detenção desde junho se preparam para ser julgados, em Luanda, por atos preparatórios para uma rebelião e um atentado ao Presidente.

“Na política não vale tudo. Ela pressupõe o respeito pelo próximo, pelos princípios éticos, morais e cívicos. Felizmente, na luta política pacífica e democrática surgiu uma Constituição moderna ajustada à nossa realidade e que indica como devemos organizar o Estado, a sociedade e a economia”, avisou, sem nunca se referir a qualquer caso concreto.

Numa altura em que surgem críticas da comunidade internacional sobre o cumprimento dos direitos humanos em Angola e a alegada interferência política na Justiça, José Eduardo dos Santos fez questão de sublinhar que a Constituição define a “separação dos poderes e a interdependência de funções”.

“Consagra a independência dos tribunais e a legitimação do poder político através de eleições livres, periódicas e multipartidárias, baseadas no sufrágio universal, e consagra também o respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais”, apontou.

Retomando a necessidade de crescimento do país, o Presidente angolano enfatizou que não é possível estruturar o sistema económico “sem a presença no mundo do capital e do trabalho de empresas e grupos económicos angolanos conscientes e fortes”, que “serão a garantia” da independência.

“Há quem pretenda confundir deliberadamente este exercício de promoção e defesa do interesse nacional com a promoção da corrupção para enfraquecer o nosso país, porque sabe que a ação contra a corrupção é conduzida por outros meios”, refutou.

As celebrações dos 40 anos de independência

Angola celebra esta quarta-feira 40 anos de independência com um desfile civil e militar e um discurso do Presidente José Eduardo dos Santos, numa cerimónia a que assistem convidados estrangeiros, entre chefes de Estado e de governo e delegações estrangeiras.

As festividades iniciam-se às 08:00 locais (07:00 em Lisboa) com o hastear da bandeira, pelo vice-presidente da República, Manuel Vicente, seguindo-se a deposição de uma coroa de flores no sarcófago do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto.

O programa prevê que antes do discurso do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, fale o ministro do Interior e coordenador da comissão preparatória das comemorações da independência, Bornito de Sousa.

Aos discursos segue-se o ponto mais alto das cerimónias, com o desfile civil e militar, que contará com a participação de 10 mil pessoas.

O desfile cívico contará com blocos dos antigos combatentes e veteranos da pátria, infantis, administração pública, juventude e dos desportistas, cultura e comunicação social, educação, ensino superior, ciência e tecnologia, comércio, hotelaria e turismo, mercados e feiras, saúde e ambiente, indústria, transportes e comunicações, construção, urbanismo e habitação, agricultura, pescas, pecuária e florestas.

Logo a seguir, desfilam a Polícia Nacional, Exército, Força Aérea e Marinha de Guerra.

Segundo o programa, José Eduardo dos Santos oferece em seguida aos chefes de Estado e de Governos e delegações estrangeiras um banquete oficial, para 3.000 convidados.

As comemorações dos 40 anos de independência angolana iniciaram-se a 08 de novembro, com um culto ecuménico no Estádio 11 de Novembro, em que participaram 50 mil pessoas.

Angola foi colonizada por Portugal durante cerca de 500 anos, tendo alcançado a independência na sequência da luta armada levada a cabo pelos movimentos de libertação.

A independência foi proclamada a 11 de novembro de 1975 por António Agostinho Neto, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola e o primeiro Presidente de Angola, após 14 anos de guerra contra o poder colonial português.