O dia em que a coligação de direita caiu no Parlamento foi também o dia em que o economista Pedro Arroja preferiu declarações polémicas, no seu habitual espaço de comentário no Porto Canal, que já levaram o Bloco de Esquerda a exigir um pedido de desculpas. Na qualidade de comentador político, o economista referiu-se, sem identificar nomes, às “meninas do Bloco de Esquerda no Parlamento” como “esganiçadas”, sempre “contra alguém ou contra alguma coisa”:

“Repare, aquelas esganiçadas, sempre contra alguém ou contra alguma coisa. Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, eu não queria nenhuma daquelas mulheres – já tenho pensado – eu não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada. Nem dada. Porque eu não conseguiria com elas, com uma delas, com uma mulher assim, construir uma comunidade, uma família. Elas estão sempre contra alguém ou contra alguma coisa. E lá em casa só havia dois tipos de pessoas, ou os filhos, ou o marido. O mais provável é que elas se pusessem contra o marido. Todas as noites, todos os dias, durante o dia no Parlamento, à noite com o marido: ‘Porque tu é que tens a culpa disto!’ (…) Com o tempo iam pôr-me fora de casa. E eu saía.”

Perante os comentários de Pedro Arroja, que esta quarta-feira estão a dominar as redes sociais, o Grupo Parlamentar do Bloco escreveu uma carta ao Presidente da direção da estação, Júlio Magalhães, onde se lê que as considerações do economista “levantam perplexidade pelo caráter ofensivo e misógino com que se referiu a deputadas do Bloco de Esquerda”.

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De forma a justificar a sua indignação, o partido de esquerda cita a Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido (LTSAP), mais propriamente os dois primeiros números da lei n.º 27/2007, referente aos limites à liberdade de programação: 

1- A programação dos serviços de programa televisivos e dos serviços audiovisuais a pedido deve respeitar a dignidade da pessoa humana e os direitos, liberdades e garantias fundamentais.

2- Os serviços de programas televisivos e os serviços audiovisuais a pedido não podem, através dos elementos de programação que difundam, incitar ao ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência.

O Bloco escreve ainda que hoje em dia é “absolutamente consensual que o incitamento ao ódio racial ou religioso é inaceitável, o mesmo não é adquirido no que respeita ao sexo e ao género”. Apesar disso, o partido diz compreender que, uma vez que as declarações em causa foram proferidas em direto, “seria impossível à direção do Porto Canal prever ou limitar a opinião do seu convidado”, mas tal não impede à mesma “emitir de imediato um pedido de desculpas formal e estabelecer um distanciamento inequívoco relativamente às declarações do Dr. Pedro Arroja”

O economista comentou ainda, na terça-feira à noite, que o Bloco de Esquerda era um partido “especialista nas causas fraturantes”. “”Mas fratura o quê? Fratura a comunidade. Divide. O aborto, o casamento gay, a adoção de casais homossexuais… divide!”