” A Fossa”

O primeiro de dois filmes do chinês Wang Bing, um dos nomes cimeiros do documentarismo actual, que se estreia esta semana, juntamente com “Três Irmãs”. São tanto mais admiráveis porque o realizador filmou-os clandestinamente, à revelia das autoridades comunistas, como é seu hábito. Rodado em 2010, “A Fossa” é uma ficção contígua da realidade, ao recriar, in loco e até ao pormenor mais desumano, as vicissitudes dos prisioneiros de um campo de trabalho e reeducação maoísta situado no Deserto de Gobi, nos anos 50 e 60. Apenas cerca de 500 dos três mil detidos sobreviveram, tendo alguns recorrido ao canibalismo. Baseado no livro escrito por um dos que escaparam com vida. 

“Três Irmãs”

O segundo filme de Wang Bing a chegar hoje às telas portuguesas data de 2012, dois anos após “A Fossa”. Foi rodado numa remota zona rural e profundamente pobre da China, longe das grandes cidades em desenvolvimento frenético e arredada do boom económico, centrando-se em três irmãs de 4, 6 e dez anos, respectivamente. A mãe fugiu e o pai acaba por ir trabalhar para uma dessas cidades, deixando a menina mais velha ao cuidado de parentes próximos. Filmado ao longo de meio ano, “Três Irmãs” documenta, com um realismo impenitente, a situação dos esquecidos do “milagre do capitalismo vermelho”, que vivem ainda pior do que os seus antepassados de antes da revolução.  

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“Tudo Vai Ficar Bem”

Rodado no Canadá e em 3D, “Tudo Vai Ficar Bem” marca o regresso de Wim Wenders aos enredos ficcionais, depois de alguns anos a fazer documentários, e passa-se ao longo de 12 anos. James Franco é um escritor que, num dia de Inverno, atropela inadvertidamente uma criança, e a memória desse acontecimento nunca mais o abandona. A interpretação átona de Franco dá o mote a este filme sonâmbulo e difuso, vácuo e entediante, onde Wenders confunde contenção de sentimentos com anulação de expressão emocional. Também com Charlotte Gainsbourg e Rachel McAdams, e uma banda sonora de Alexandre Desplat que ajuda ao clima soporífero geral.   

“Steve Jobs”

Aaron Sorkin assina o argumento, Danny Boyle realiza e Michael Fassbender interpreta este filme que, apesar de inspirado na autobiografia de Walter Isaacson sobre o co-fundador da Apple, não é mais um “biopic” de juntar por números. Sorkin e Boyle dividem a fita em três “actos”, cada qual corrrespondendo ao lançamento de uma máquina fundamental para Steve Jobs (o Macintosh, o esquecido NeXT e o iMac), para mostrarem que ele era muito bom em tudo o que respeitava à relação máquina-pessoa, mas muito menos capaz no campo da relação pessoa-pessoa. Como diz Steve Wozniak (Seth Rogen) a Jobs a certa altura da fita: “Olha que é possível ser-se dotado e um ser humano decente”. “Steve Jobs” foi escolhido pelo Observador como a estreia da semana. Pode ler a crítica aqui