Quem não viu já gaivotas na praia? Ou até guinchos. Ou mesmo corvos-marinhos. São alguns exemplos das 65 espécies de aves marinhas e costeiras que existem em Portugal, confirmadas por um trabalho de censos conduzido ao longo de oito anos. O “Atlas das Aves Marinhas de Portugal” será apresentado na segunda-feira, dia 16 de novembro, às 18 horas, no Oceanário de Lisboa. Este atlas poderá ser consultado tanto em formato de livro como na página do projeto (ainda em teste) e destina-se não só a cientistas como ao público em geral.

“As aves marinhas representam o grupo de aves mais ameaçado do mundo”, refere a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). “Grande parte delas enfrentam um declínio acentuado e é urgente combater esta situação, pelo que a presente obra representa um passo fundamental para o conhecimento das aves marinhas portuguesas.”

Embora muitas destas aves não apareçam apenas na costa portuguesa, este atlas representa a “mais completa e detalhada caracterização até hoje realizada da distribuição e abundância das aves marinhas e costeiras que utilizam as águas portuguesas”. A SPEA afirma mesmo que não existe um trabalho comparável no espaço europeu.

“O ‘Atlas das Aves Marinhas de Portugal’ vem trazer um novo olhar sobre a presença de 65 espécies de aves nas nossas águas portuguesas, em que se descreve e ilustra graficamente a distribuição de aves marinhas em Portugal”, diz Ana Meirinho, assistente do Programa Marinho da SPEA e uma das autoras do livro.

Com “censos marinhos, censos costeiros, dados de tracking (seguimento individual de aves), observações pontuais, dados das colónias” e “informação por espécie, época do ano e região”, foram precisos dois anos desde o início da conceção do livro até que finalmente é apresentado ao público.

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“Este Atlas está destinado a ser um exemplo a seguir no mundo da ornitologia marinha. Não só pela quantidade e qualidade dos dados, mas também porque é o primeiro que combina uma publicação “tradicional” e uma plataforma interativa (atlasavesmarinhas.pt) que permitirá conhecer e divulgar mundialmente a distribuição de todas as espécies, algumas das quais extremamente raras de ver no mar. Como co-autor, só me posso sentir afortunado por poder fazer parte desta iniciativa”, diz Iván Ramirez, coordenador do grupo de conservação na Europa e Ásia central da Birdlife.

Algumas espécies representadas no livro:

Alcatraz – as maiores colónias encontram-se nas ilhas britânicas, mas o alcatraz também pode ser encontrado em toda a costa continental portuguesa.

Casquilho – é uma espécie muito comum nas águas nacionais, mas só muito raramente é avistada a partir de terra.

Corvo-marinho – apesar do nome, o corvo-marinho pode usar também os rios e albufeiras, como a albufeira do Alqueva onde nidifica.

Galheta – pode ser encontrada desde a Rússia, passando pela Islândia, até Marrocos. Em Portugal, concentra-se sobretudo no arquipélago das Berlengas.

Negrola – é um dos poucos patos marinhos que aparece regularmente em Portugal, às vezes em grandes bandos, como em Aveiro onde podem chegar às várias centenas de indivíduos.

Pardela-balear – esta espécie nidifica apenas nas ilhas Baleares, em Espanha, mas fora deste período pode ser encontrada em Portugal continental.

Pintainho – nidifica nas ilhas e, ao contrário do grupo ao qual pertence, não realiza migrações de grande escala.

Tagaz – em Portugal continental nidifica a sul do Tejo em colónias isoladas no interior do país.

“Uma obra basilar, essencial e aguardada, com a descrição da fenologia, mapeamento da distribuição e conservação da diversa avifauna marinha e costeira de Portugal e ilhas”, refere Vítor Paiva, investigador sénior no MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.