O mundo parou na noite de sexta-feira, com os ataques terroristas a Paris, que provocaram a morte a pelo menos 129 pessoas. No Líbano, no dia anterior, dois terroristas fizeram-se explodir matando 43 pessoas – num atentado reivindicado, também, por membros do grupo terrorista Estado Islâmico. E o número só não foi maior devido à ação de Adel Termos, que se sacrificou para salvar dezenas ou centenas de vidas.

Adel Termos passeava, juntamente com a sua filha, num mercado ao ar livre no sul de Bourj el-Barajneh, um município situado nos subúrbios de Beirute. Aí, ouviu uma explosão, provocada por a detonação de uma bomba de um suicida. O caos instalou-se no local. Mas os terroristas eram dois: e assim que Adel Termos viu o segundo, que se preparava para se fazer também explodir, lançou-se sobre ele. A bomba foi detonada e Adel Termos morreu: mas o seu sacrifício permitiu salvar dezenas ou centenas de vidas.

O ato heróico é descrito por Elie Fares, um médico de Beirute, à Rádio Pública Internacional (PRI):

Ele atirou-o [ao bombista suicida] ao chão, causando a detonação da segunda bomba. Há muitas, muitas famílias, provavelmente centenas, que devem ao seu sacrifício o facto de [hoje] estarem inteiras.

Quanto ao destino da sua filha, as informações são contraditórias. O India Times, por exemplo, afirma que terá morrido também na explosão, o que é corroborado pela MIC, uma publicação digital norte-americana. Mas uma fotografia, partilhada nas redes sociais, pode indicar o contrário. O heroísmo de Adel Termos tem sido alvo de muitas homenagens, sobretudo nas redes sociais.

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https://twitter.com/misheeIs/status/665336313990791168

O caso recorda a história de Aitzaz Hasan, um jovem de 15 anos que em 2014 sacrificou a sua vida para evitar que um bombista suicida se fizesse explodir dentro de uma escola no Paquistão. O jovem encontrava-se fora da escola quando viu um terrorista envergando um colete de explosivos. Embora os seus amigos o tenham tentado demover, Aitzaz Hassan confrontou o terrorista, com o objetivo de o parar. Este fez-se explodir, causando a morte do jovem, que impediu assim que a explosão se desse no interior da escola: onde se encontravam naquele momento, segundo a BBC, cerca de 2 mil estudantes.

O duplo ataque terrorista que ocorreu em Beirute não tem recebido uma grande cobertura mediática, o que motivou críticas entre os cidadãos do Líbano. Segundo o jornal The New York Times, estes afirmam que isso só pode ter acontecido por uma de duas razões: ou as vidas dos árabes são encaradas como tendo menos importância, ou é considerado normal que isso aconteça em territórios longínquos, como Bourj el-Barajneh, que era até há um ano e meio uma zona de guerra.

Há também quem coloque em causa a forma como os atentados foram retratados: alguns acusam os media de os desvalorizarem quando afirmam que se terão dado numa zona controlada pela organização fundamentalista islâmica xiita Hezbollah, como fez Everett Stern, um candidato ao senado norte-americano.

https://twitter.com/SternEverett/status/665365756184551424

Embora atentados explosivos façam parte do dia a dia dos libaneses, os atos terroristas de quinta-feira deram-se numa região predominantemente residencial e comercial, causando a morte a civis e inocentes, e não apenas a fundamentalistas islâmicos, ao contrário do que sugeriu Everett Stern.

“Quando pessoas do meu país morreram, nenhum país se importou em acender os seus edifícios. O mundo não entrou em luto. A sua morte não foi mais que uma mancha no ciclo internacional de notícias, algo que acontece naquelas partes do mundo”, acusou o médico libanês Elie Fares, citado pelo jornal The New York Times.