Foram 129 mortos, 352 feridos (99 em estado crítico) seis ataques e sete terroristas. No centro de todas as atenções, Paris. Lutos, testemunhos, homenagens, minutos de silêncio, retaliações, rostos, manifestações em redes sociais, perguntas, explicações e quatro polémicas que voltam em força ao debate público. Três dias depois, o que já sabemos sobre os atentados de Paris.

Terroristas. Quem é quem?

Salah Abdeslam, o homem que se tornou no mais procurado da Europa. Nascido em Bruxelas, em 1989, cruzou a fronteira entre a França e a Bélgica na madrugada de sábado ao volante de um Volkswagen Polo. Apesar de ter sido revistado pelas autoridades francesas, não foi detido, porque ainda não tinha sido emitido o alerta sobre o seu envolvimento nos ataques de sexta-feira. Era o único identificado pelas autoridades em fuga – e há notícias não confirmadas oficialmente de que terá sido detido esta segunda-feira.

O líder de toda a organização também já foi identificado. Chamava-se Abdelhamid Abaaoud e era belga, segundo a procuradoria francesa. Foi considerado o cérebro dos vários ataques que decorreram em Paris na noite de sexta-feira, 13 de novembro. O Estado Islâmico reivindicou os ataques à capital francesa logo na sexta-feira.

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Samy Amymour e Ahmad Al Mohammad foram também identificados pelas autoridades na manhã desta segunda-feira. O primeiro nasceu em Paris em 1987, vivia nos subúrbios da capital, e foi um dos responsáveis pelo ataque à sala de espetáculos Bataclan. Era procurado pelas autoridades desde 2013.

Ahmad Al Mohammad era natural de Idlib, Síria, e pode ter uma ligação ao passaporte sírio encontrado junto ao corpo de um dos terroristas mortos na sexta-feira. Crê-se que o passaporte pertencia a um refugiado que tinha passado pela ilha grega de Leros, de acordo com o governo grego, mas esta informação ainda não é oficial, pelo que deve ser analisada com cautela. Tinha 25 anos e foi o responsável por uma das explosões junto ao Stade de France.

Já Ismail Omar Mostefai tinha 29 anos, vivia em Paris e segundo o The New York Times era filho de mãe portuguesa e pai argelino. Esta informação não foi confirmada oficialmente. Até à data, sabe-se o que disse o New York Times: que viajava frequentemente para a Bélgica, que trabalhava numa padaria e tinha registo criminal de oito condenações, ocorridos entre 2004 e 2010. Ismail Omar Mostefai foi encontrado morto nos escombros perto da sala de espetáculos Bataclan e foi identificado através de impressões digitais. O pai, irmão e cunhada do terrorista foram detidos para interrogatório. 

Um dos bombistas suicidas, Ibrahim Abdeslam, tinha 31 anos, e morreu no ataque a um restaurante na avenida Voltaire. Bilal Hadfi tinha 20 anos, morava na Bélgica, tinha estado durante vários meses na Síria e foi o responsável pelo ataque junto ao Stade de France.

O epicentro das operações de preparação dos atentados ocorreu na Bélgica e na Síria, onde pelo menos três dos atacantes terão passado algumas temporadas, conta o El País. As atenções estão centradas em Bruxelas, onde foram detidas sete pessoas. Foi também na capital belga que os terroristas alugaram um dos automóveis que levaram o terror à capital francesa.

Como foram organizados os ataques?

Os atentados foram organizados por sete pessoas, em três grupos distintos. Um deles fez-se explodir junto ao Stade de France enquanto os outros dois se deslocaram pela cidade em dois carros pretos: um Seat Léon e um Volskwagen Polo. Suicidas, traziam explosivos carregados com nitrogénio e fizeram-se explodir pressionando um botão detonador. 

Nas ruas do bairro parisiense Saint-Denis foi encontrado um carro com várias armas, sendo que três eram Kaláshnikov, o que reforça a hipótese avançada pela polícia de que alguns terroristas terão fugido e poderão estar a planear outros ataques. 

Às 21h20, um dos terroristas fez-se explodir junto à porta D do Stade de France, onde decorria o jogo amigável entre as seleções francesa e alemã. O terrorista tentou entrar no estádio, sem sucesso. A explosão matou o terrorista e uma pessoa que estava nas proximidades. Cinco minutos depois, um grupo de homens aproximou-se do bar Le Carrillon e so restaurante Petit Cambodge, disparando aleatoriamente sobre as pessoas que estavam nas esplanadas. Morreram pelo menos 14 pessoas. 

Às 21h30, um segundo terrorista fez-se explodir junto ao Stade de France, desta vez perto da porta H. Não causou mais mortes, além da sua. Dois minutos depois, outro grupo de homens armados começam a disparar sobre as pessoas presentes no bar À la Bonne Biere, onde morreram mais cinco pessoas. Às 21h36, mais homens armados disparam sobre os clientes do restaurante La Belle Equipe, fazendo, pelo menos, 19 vítimas mortais e nove feridos graves. 

Às 21h40, outro bombista suicida fez-se explodir no restaurante Le Comptoir Voltaire, na avenida Voltaire, matando mais uma pessoa, ao mesmo tempo que um grupo de atacantes entrava na sala de espetáculos Bataclan, onde decorria um concerto da banda norte-americana Eagles of Deah Metal, matando 89 pessoas. Treze minutos depois, há mais um terrorista que se suicida perto do Stade de france. 

Às 00h20, as autoridades francesas conseguem entrar no Bataclan. Surpreendidos, dois dos terroristas suicidam-se e o terceiro é morto pela polícia. 

Como reagiu o governo francês?

O presidente François Hollande decretou três dias de luto nacional e sublinhou que França será “implacável contra os bárbaros”. Com o estado de emergência ativo e fronteiras fechadas, cerca de 1.500 militares franceses foram mobilizados para as ruas de Paris.

No domingo, França levou a cabo um “bombardeamento massivo” na cidade de Raqqa, na Síria, em colaboração com forças norte-americanas. Foram bombardeados vários pontos estratégicos do Estado Islâmico (um centro de comandos, um posto de abastecimento e um campo de recrutamento jihadista), que tinha já reivindicado a autoria dos atentados de Paris. 

O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, anunciou esta segunda-feira que foram feitas 168 buscas durante a madrugada. Foram aprendidas 31 armas, quatro de guerra, e 23 pessoas foram detidas. Há ainda 104 pessoas que ficaram em prisão domiciliária. O ministro francês do Interior referiu ainda que a ameaça de um ataque terrorista continua elevada.

Os principais pontos turísticos de Paris, como a Eurodisney ou a Torre Eiffel, foram encerrados durante o fim de semana. A banda irlandesa U2, liderada por Bono, cancelou dois concertos que tinha marcado em França e a banda norte-americana Foo Fighters cancelou a digressão europeia. Esta segunda-feira, houve um minuto de silêncio em todo o território francês, pelas vítimas. 

O que ainda falta saber

São questões levantadas pelo Le Monde e a primeira é das mais sensíveis: entre os terroristas, há refugiados? O passaporte sírio que foi encontrado junto ao corpo de um bombista suicida perto do Stade de France levantou a questão. Mas no domingo, a ministra da Justiça Christiane Taubira, afirmou que se tratava de um passaporte falso. O Guardian olha para o assunto com cautela e explica todos os motivos aqui

Quem são os autores dos disparos no 10º bairro de Paris, onde se situavam o bar Le Carillon, o restaurante Le Petit Cambodg ou o Café Bonne Bière? Estes terroristas dispararam sobre as pessoas que estavam nestes estabelecimentos enquanto circulavam num Seat Leon preto. Também ainda não foi confirmado que um dos bombistas suicidas que morreu perto do Stade France tenha tentado assistir ao jogo entre a seleção francesa e a alemã. 

A 5 de novembro, foi detido um homem na Alemanha, por posse de explosivos. Resta saber se este homem está relacionado com os ataques de sexta-feira. O chefe do governo da Baviera diz que sim, mas esta informação ainda não foi confirmada pelas autoridades francesas. 

Há várias informações que ainda não foram confirmadas sobre a operação de sexta-feira. Consta que morreram quatro polícias durante a operação de libertação de reféns, mas essa notícia não foi confirmada. Também foram notícia alguns incidentes nos bairros de Halles, Belleville, Trocadéro, Vincennes ou République, mas as autoridades não confirmaram a veracidade destas notícias. 

Houve um incêndio na cidade de Calais na madrugada de sexta-feira para sábado, que destruiu uma área de 2.500 metros quadrados, onde estavam algumas barracas construídas por imigrantes. Contudo, um dos responsáveis pelo município veio dizer que se trata de algo “claramente acidental.”

O El Espanhol também lança algumas questões que ainda carecem de resposta. A primeira passa pelo “cérebro verdadeiro” de toda a operação. Apesar de o Estado Islâmico se ter apressado a reivindicar a autoria dos atentados, os professores académicos Thomas Hegghammer e Petter Nesser publicaram um estudo onde dizem duvidar da capacidade de o grupo terrorista levar a cabo ataques desta dimensão no Ocidente. Concluem que o Estado Islâmico “não pressupõe o mesmo tipo de ameaça terrorista para o Ocidente que a Al Qaeda representava no ano 2000”, porque tem falta de recursos.

Os especialistas afirmam que os ataques que a Europa tem vivido entre 2011 e 2015 são, sim, levados a cabo por simpatizantes da causa jihadista: pessoas que estão radicalizadas nas suas casas ou comunidades e que se convencem da doutrina. A grande pergunta que se coloca é se os líderes do Estado Islâmico estão mesmo por detrás desta operação ou não.