Garante que não quer interferir na política portuguesa, que não é fã dos mercados financeiros e que é preciso esperar antes de se fazerem julgamentos sobre os planos do novo Governo, mas também que se este convencer não os mercados vai ter problemas sérios. “O meu maior receio é que todos os esforços e sacrifícios sejam desperdiçados”, diz Herman Van Rompuy, em entrevista ao Observador.

The proof of the pudding is in the eating”, algo que em português seria o equivalente a ‘pela obra é que se conhece o artista’, diz o ex-presidente do Conselho Europeu, em conversa com o Observador em Lisboa, para ilustrar a sua posição sobre o que esperar do próximo Governo.“Antes de se fazerem julgamentos finais sobre um Governo, temos de ver primeiro qual é o seu programa e como é o que o implementa”.

E não vai ser já com o próximo orçamento que, para o responsável, será possível retirarem-se conclusões, pelo menos do lado europeu: “Em abril têm de submeter também um programa de estabilidade, com a trajetória orçamental para os próximos anos. Na base desses dois documentos [orçamento e plano de estabilidade] fazemos uma avaliação ao nível europeu sobre as verdadeiras intenções do Governo”.

Quando estes planos forem apresentados, diz, não são só as instituições europeias que terão de ser convencidas: “Não sou fã dos mercados financeiros, mas pela experiência que tenho, em especial no período 2010-2013, se existir desconfiança da parte dos mercados, então terão um problema, porque nesse caso as taxas de juro sobrem e taxas de juro mais altas também têm um impacto no lado orçamental, o que torna a meta de 3% ainda mais difícil”.

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“Penso que o novo governo tem de manter a confiança, não apenas das instituições europeias, mas também dos mercados financeiros, e é por isso que são importantes não apenas as medidas, mas também, vamos dizer, a mensagem que o Governo passa sobre as suas intenções para 2016 e para os anos seguintes”, considerou.

“Quando estive em Atenas no final do meu mandato em outubro de 2014, alguém me perguntou na audiência – estávamos a apresentar o meu livro traduzido em grego (já agora, também existe uma versão em português) – alguém me perguntou o que eu achava da situação atual. Eu disse exatamente a mesma coisa, e isto foi antes das eleições, que esperava que o novo Governo respeitasse os sacrifícios feitos pelo povo grego, e neste caso pelo Governo português, e que tudo o que foi alcançado não tivesse sido em vão”, disse.

Apesar de tentar distanciar-se da situação política atual em Portugal e garantindo que não quer interferir (“Não é hipocrisia, não é formalidade ou educação. É a verdade”), Rompuy sublinha que é esse o desafio do próximo Governo: “O meu maior medo é que todos os esforços e sacrifícios sejam desperdiçados”.