A ameaça do fecho das fronteiras começa a ser cada vez mais frequente e as empresas exportadoras em Portugal poderão ver a livre circulação de produtos condicionada. França é local de passagem para qualquer mercadoria enviada por via rodoviária desde Portugal para fora da Península Ibérica.

A vaga de refugiados levou a que alguns países da União Europeia fechassem ou pelo menos condicionassem as suas fronteiras. A Hungria foi o primeiro país a impor limites à livre circulação de pessoas no seu território. Posteriormente o motor da Europa, Alemanha, declarou também a necessidade de suspender de forma temporária a sua participação no Tratado de Schengen, que como se sabe estabelece abertura de fronteiras e livre circulação de produtos e pessoas nos países da União Europeia. Sucederam-se os anúncios de vários países como a Polónia, Suécia entre outros, sobre a necessidade de se impor maior controlo das suas fronteiras.

Os atentados em Paris a 13 de Novembro geraram alerta máximo um pouco por toda a Europa e o Presidente Francês, François Hollande, declarou estado de emergência naquele país tomando como medida o encerramento das fronteiras. Mas em que medida pode esta decisão influenciar e dificultar as exportações nacionais?

De acordo com o INE, Portugal exporta actualmente cerca de 48 mil milhões de euros, sendo que 71% desse valor são exportações destinadas a países da União Europeia – Espanha, França, Alemanha e Reino Unido são os principais países de destino por ordem respectiva. Estes valores representam uma percentagem considerável do PIB nacional e tornam-se essenciais para o desenvolvimento da economia portuguesa. Já o Banco Central Europeu espera que dentro de 3 anos as exportações possam pesar quase 46% do PIB nacional.

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O território Francês é fundamental no que respeita à passagem de mercadorias provenientes de Portugal ou Espanha para qualquer outro país Europeu, dado que a maioria das exportações é feita por camião (que é muito superior às exportações feitas por avião) e assim torna-se essencial a livre circulação de bens e produtos naquele território para que as mercadorias nacionais possam passar para outros países sem serem alvo de controlo alfandegário.

As últimas sondagens em França dão vantagem ao partido Frente Nacional de Marine Le Pen para as eleições regionais. A FN, que é contra o projecto europeu, reúne 28% das intenções de voto, estando na primeira posição das sondagens liderando face ao partido conservador Os Republicanos de Nicolas Sarkozy e ao Partido Socialista do actual Presidente Francês François Hollande, que seriam os segundos e terceiros partidos mais votados respectivamente. Visto isto, existem razões para se pensar numa eventual saída da União Europeia por parte da França?

Este cenário poderia dificultar o desenvolvimento de muitas empresas portuguesas que têm como factor fundamental do seu negócio a exportação de produtos para países Europeus. Só para França as empresas portuguesas exportam quase 6 mil milhões de euros por ano.

Urbano Veiga, CEO da Zumbu.com uma empresa de vendas online cada vez mais virada para as exportações vê com preocupação os desenvolvimentos recentes «depois do fecho das transacções internacionais para os gregos por falta de liquidez, a ameaça do terrorismo e fecho de fronteiras é catastrófico para o nosso negócio e economia nacional».

Por sua vez, a Delnext, uma empresa que presta serviços de organização de transporte já viu esta situação dos refugiados causar atrasos em algumas das encomendas que a sua empresa expede: «Os envios para o Reino Unido têm sofrido atrasos. Toda a mercadoria rodoviária para este país passa pelo túnel do canal da Mancha, e ultimamente, uma travessia que se fazia em 20 minutos pode demorar 3 dias, uma vez que os camiões são alvo de constante inspecção. Este clima de insegurança é péssimo»

A triste e desoladora situação que se viveu em Paris no passado dia 13 de Novembro tem consequências sociais muito graves mas pode também ter consequências muito negativas na economia portuguesa e europeia.

Diretor Geral da Delnext