Lavar a roupa, passar a ferro, cozinhar. Todas elas são tarefas diárias, que é preciso cumprir. Mas verdade é que no que toca às tarefas domésticas, a balança entre homens e mulheres ainda é muito desequilibrada. Eles empenham-se, mas elas é que continuam a trabalhar mais e gastar mais tempo nas tarefas do lar.

Segundo os dados do estudo “Homens, papéis masculinos e igualdade de género”, divulgados esta quinta-feira pelo Público, os homens gastam oito horas por semana em tarefas domésticas, ao passo que as mulheres gastam 21. Também nos cuidados familiares, como o cuidado com os filhos, a divisão de tarefas não é equilibrada. Eles despendem 9 horas por semana, enquanto elas gastam 17.

O estudo, liderado pelas investigadoras Karin Wall, Vanessa Cunha e Leonor Rodrigues vão ser apresentados no Instituto de Ciências Sociais (ICS), na Universidade de Lisboa, durante um workshop internacional do projeto “O Papel dos Homens na Igualdade de Género” e reúne dados sobre a divisão de tarefas nos lares portugueses, mas também uma compilação de outros dados do Internacional Survey Programme.

A investigadora do ICS, Karin Wall, disse ao Público que o inquérito foi realizado em 2014, em Portugal, e que embora as disparidades fossem maiores em 2002, o progresso durante estes 12 anos não foi significativo. “Em 2002, no último inquérito, os homens portugueses gastavam sete horas por semana com as tarefas domésticas e as mulheres 26 horas”, revela a socióloga, que garante em comparação com outros países, por exemplo os nórdicos, em que os homens gastam 11 ou 12 horas semanais, as mulheres portuguesas ainda gastam muito tempo nas tarefas domésticas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

TO GO WITH AFP STORY BY PATRICE NOVOTNY A couple with a small baby unload their shopping in their kitchen at their home in Worcester, central England on March 23, 2015. The struggling middle class is at the heart of the campaign for Britain's May elections despite an economic recovery under David Cameron's coalition. Despite the sharp slowdown in inflation in recent months, prices have gone up some 11.5 percent in five years, while salaries have risen only by 7.5 percent, the Office for National Statistics said. AFP PHOTO / GEOFF CADDICK (Photo credit should read GEOFF CADDICK/AFP/Getty Images)

A mulheres portuguesas despendem mais 13 horas semanais, nas tarefas domésticas, do que os homens. Créditos: GEOFF CADDICK/AFP/Getty Images

A socióloga explicou que em Portugal existe uma “cultura do bem-estar doméstico (…) e da necessidade do vinco nas calças e de ter comida sempre pronta, que passou de geração em geração”, acrescentando, porém, que alguns dados do International Social Survey mostram sinais de mudança – pelo menos nos casais mais jovens. “A cozinha é a dimensão da vida doméstica onde os homens marcam presença de forma crescente, quer dividindo tarefas, quer chamando a si a responsabilidade”, disse Karin, ao Público, explicando que nos casais mais jovens o homem cozinha cerca de o dobro, em relação ao total de casais.

“Quem cozinha”, “Quem trata da roupa”, “Quem trata dos doentes”, “Quem faz reparações”. Foram estas as quatro tarefas específicas avaliadas pelas investigadoras. Cozinhar e tratar da roupa é mesmo com elas. As mulheres tratam da roupa em 92,1% das vezes e também cozinham quase sempre, em 74,6% das vezes. Parece que é no cuidado dos doentes que a balança é mais equilibrada. A partilha dessa tarefa, nos casais, é dividida na maioria das vezes, em 49,1% para elas e 47,4% para eles. Lá em casa quem trata das reparações são os homens, em mais de 80%. As desigualdades são mais proeminentes nos casais entre os 45 e 64 anos.

No que diz respeito ao trabalho e à igualdade económica, ainda há um caminho longo, muito longo a percorrer. E podemos falar de pelo menos um século. Segundo o relatório do World Economic Forum (WEF), as mulheres não vão conseguir atingir a paridade económica antes de 2133, avança o The Telegraph, que acrescenta que a diferença de oportunidades, em termos económicos, diminuiu na última década, segundo o Global Gender Gap Report que avalia 14o países tendo em conta a saúde, a educação, oportunidades económicas e poder político.

O relatório mostra que as desigualdades não estão a diminuir e que o fosso salarial entre géneros está a aumentar.”As desigualdades atuais correm o risco de ser agravadas no futuro”, alertou o fundador e presidente do World Economic Forum.

“Neste contexto, temos de criar um mundo onde as contribuições das mulheres sejam tão valorizados como os dos homens (…) para ajudar a garantir que o futuro é servido pela humanidade e não é ameaçado por ela”, acrescentou.