Havia um homem estendido no chão do Comptoir Voltaire, um dos restaurantes atingidos durante os atentados de Paris na sexta-feira, 13. Estava deitado, ferido, entre as mesas e cadeiras. David é enfermeiro e depressa acorreu a ajudá-lo: tentou reanimá-lo e rasgou-lhe a t-shirt para ver a ferida. À volta do corpo moribundo quatro fios amarrados: “Havia um branco, um preto, um vermelho e um laranja. Era um bombista suicida”, contou David à Reuters.

O enfermeiro de 46 anos percebeu logo que estava a tentar salvar a vida de alguém que o tentou matar. O terrorista era Ibrahim Abdeslam, o irmão do extremista islâmico que ainda está a monte, Salah Abdeslam. Ibrahim fez-se explodir no Comptoir Voltaire, próximo da sala de espectáculos Bataclan, onde dezenas de pessoas também morreram. O terrorista foi o único a morrer no café, o seu cinto de explosivos não rebentou por completo.

David conta à agência de notícias que “o fio vermelho tinha algo no final.” Pensei que fosse o detonador. Nessa altura, estavam as chegar os bombeiros e David depressa foi contar-lhes o que tinha acabado de encontrar. Os bombeiros evacuaram toda a gente da sala. O cinto de explosivos não tinha detonado completamente e o perigo era iminente.

Os momentos antes da explosão

David vive perto do Comptoir Voltaire e tinha ido ali jantar com um amigo. De repente, quando a empregada de mesa lhes trazia os pratos, deu-se uma explosão. “Uma chama enorme, só poeira. Pensei que era do ar condicionado e gritei para desligarem o gás. As pessoas ficaram em pânico e começaram a fugir. Eu saí da sala de jantar e fui para o terraço.”

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David ajudou uma mulher e logo depois um jovem que estava deitado em cima de uma mesa. Estava a sangrar, mas consciente. Nesta altura chega um outro cliente que também vai ajudar esse jovem e David decide tentar acudir outra pessoa. Foi nesta altura que tentou reanimar Abdeslam. “Nunca pensei que fosse um bombista suicida, para mim era mais um cliente”, conta.

O enfermeiro conta à Reuters que não viu o terrorista entrar na sala. “Ele tinha uma grande abertura no corpo, cerca de 30 centímetros. Mas quando lhe subi a t-shirt e vi os fios, percebi que não era normal.”

O cinto de explosivos que Abdeslam usava não explodiu completamente, disse David à polícia. “Mais tarde fiquei a pensar que lhe estava a fazer massagem respiratória [antes de rasgar a t-shirt] e que podia ter perdido ali a vida.”

Para David, não podia ser mais irónico. Estava a tentar trazer à vida de um dos terroristas responsáveis pelo sangue derramado em Paris. A tentativa de salvamento foi filmada e a Reuters teve acesso ao vídeo.